POR MARI MONTEIRO
EDUCAR É, ANTES, SENTIR... E TODOS SÃO CAPAZES DISSO.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016
FILME RECOMENDADO: “O MENINO E O MUNDO” (RECOMMENDED FILM: “THE BOY AND THE WORLD")
Quando a animação “O menino e o Mundo” da autoria de Alê Abreu, lançada no Brasil em 17 de Janeiro de 2014, foi indicada ao Oscar 2016, confesso que ainda não havia “separado um tempo” para assisti-la. O que lamentei muito; sobretudo, quando soube que já havia passado um tempo considerável de seu lançamento. Ocorre que a espera para apreciar o filme só fez com que minha expectativa aumentasse ainda mais.
No final da semana passada consegui assisti-la. Pensem em uma pessoa que começou a assistir ao filme achando que iria relaxar e, de repente, começou a ficar inquieta e apreensiva. Já adianto que foi uma das sensações mais estranha e ao mesmo tempo, mágica que senti. Isso ficará entendido no decorrer deste artigo. Prometo que não ocorrerá nenhum spoiler, além das informações que já foram amplamente divulgadas pela mídia.
A primeira coisa que me chamou a atenção foi o fato de não haver diálogos ( não da forma como conhecemos, num ou noutro idioma específico) no enredo; o que leva a animação ao que chamo de uma COMUNICAÇÃO SEM FRONTEIRA. O que há são linguagens universais como: MÚSICAS; CORES; SONS DA NATUREZA (VENTO, CHUVA); RESPIRAÇÃO; TONALIDADES.
Outro aspecto magnífico, sob meu ponto de vista, é a mudança de cenários e de circunstâncias. O protagonista transita desde um tempo que parece distante e “antigo” (como o sertão e as colheitas, por exemplo) até um tempo futurista (como fábricas abandonadas, carros modernos com homens vestidos de preto, cujas aparências e intenções são nitidamente duvidosas) que lembra um cenário “pós-apocalipse”.
A sintonia entre música e cores é algo que salta aos olhos e aguça os sentidos. Há cenas em que é possível VER OS SONS saindo dos instrumentos e, através de suas cores, distinguir se fazem alusão a uma temática alegre ou triste. A propósito, a trilha sonora é algo magnífico. Chega um ponto do filme em que somos conduzidos (e seduzidos) pelas músicas e pelas imagens. E isso inquieta, porque o “normal” é ficarmos presos a enredos por conta de grandes explosões, discussões, brigas, discórdias, tramas e armações entre os personagens. E foi nesse momento que percebi o quanto esta animação é capaz de nos tirar da nossa zona de conforto, o que é excelente e até necessário, ouso afirmar.
O desconhecido assusta. E ele nos espreita (a nós telespectadores e ao menino Cuca) a cada cena. É uma dinâmica atraente sobre a rotina do mundo do trabalho, envolvendo desde a matéria – prima (algodão) à venda dos produtos (tecidos); que nos prende e nos faz “revirar” os pensamentos, desdobrando-os em verbos que, dificilmente, SEM A PROVOCAÇÃO SAUDÁVEL DA ANIMAÇÃO, pensamos no dia a dia: plantar – colher – transportar – manufaturar – vender – consumir – substituir – ostentar – descartar (coisas e pessoas).
Fato é que, além de ser uma excelente animação, é provocante. E NECESSITAMOS DESTA PROVOCAÇÃO. Estamos muito confortáveis, as crianças recebem tudo “pronto”. É tudo instantâneo... Fiquei muito curiosa em saber se elas teriam paciência para assistir a animação inteira, justamente por falta do diálogo que é, diante da sensibilidade com que foi representado o enredo, completamente desnecessário... Mas, elas entenderiam este contexto? Conheço muitos adultos que não entenderiam... E, por um “simples motivo”: ESTAMOS NOS TORNANDO CADA VEZ MAIS INTOLERANTES, IMPACIENTES E TEMOS PREGUIÇA DE PENSAR E, O MAIS GRAVE, TEMOS MEDO DE CERTAS DESCOBERTAS. Alguns de nós, simplesmente, não queremos nem saber.
Assinar:
Postagens (Atom)