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EDUCAR É, ANTES, SENTIR... E TODOS SÃO CAPAZES DISSO.

domingo, 19 de outubro de 2014

“EX - PSEUDOAMORES” ( "EX LIES LOVE")

POR MARI MONTEIRO



ALGUMAS CONSIDERAÇÕESEste artigo, além de ter sido um dos mais difíceis de concluir, considero o trabalho de REDAÇÃO MAIS SIGNIFICATIVO que realizei, pois o mesmo faz parte de um trabalho sobre DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA realizado com os alunos do Ensino Médio, cujos textos base giram em torno da temática da existência do amor verdadeiro. Ao revisá-lo foi inevitável não me lembrar do livro: "AS CINCO PESSOAS QUE VOCÊ ENCONTRA NO CÉU" (que virou um filme, recomendo.) Além disso, dedico este artigo AS QUATRO PESSOAS QUE ENCONTREI NA TERRA: Maurílio da Cunha Monteiro (meu pai, in memoriam); Edson Kemmer (meu namorado); Michele Robbles Zanini (minha amiga) e Victor Eduardo Marques (meu aluno). Muito obrigada; não precisamos esperar para nos encontrar no céu... (rs) 

Optei por iniciar este artigo com genuínas expressões de AMOR.  Sobretudo, porque – depois de tudo – ficará muito evidente que NÃO deixei de amar, apenas mudei meu JEITO DE AMAR.


Jobim, com sua licença: “EU SEI QUE VOU TE AMAR...”

"Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar.
E cada verso meu será
Pra te dizer que eu sei que vou te amar
Por toda minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida"


Assim como esta DECLARAÇÃO DE AMOR de Jobim, há outra de Fernando Anitelli que considero igualmente profunda: “SÓ ENQUANTO EU RESPIRAR, VOU ME LEMBRAR DE VOCÊ.”

Sempre soube que o AMOR existia.  Mas, agora, sei que ele existe e que não é exatamente como pensava que fosse. Há coisas que nos acontecem e tem o poder de revirar tudo que sentimos de forma intensa e radical. No meu caso, foram quatro pessoas e uma “situação indireta”. Isso tudo constituiu ma experiência tão intensa ao ponto de eu querer passar a fazer algo que NUNCA fiz ou deixar de fazer algo que SEMPRE fiz. Se bem que, de algum modo, sabia que faltava pouco... Muito pouco para eu mudar um hábito. Aos acontecimentos que me conduziram à mudança de PENSAMENTO e de ATITUDE, não chamarei de “lições” (não simpatizo com esta palavra). Chamarei de “SINAIS”, no sentido de alerta, de orientação, de ensinamento... Também não farei rodeios, os sinais, apesar de obedecer a uma ordem cronológica quanto à narrativa, cada um deles é carregado de uma IMPORTÂNCIA ÚNICA no meu aprendizado.

Comecemos...


   ►PRIMEIRO SINAL (minha vida inteira...):

Este fato foi um “divisor de águas”. Dizer “eu te amo” nunca foi algo que me incomodasse. Ao contrário, bastava gostar um pouco mais de alguém e lá estava o “eu te amo”. Quando senti a NECESSIDADE DE DIZER “eu te amo” para alguém que era REALMENTE IMPORTANTE PARA MIM e - ao mesmo tempo – muito frio e DISTANTE, percebi o quanto isso seria difícil. Eu já tinha mais ou menos uns 30 anos e NUNCA havia dito “eu te amo” ao meu próprio pai.  A certeza desse amor e a distância que sempre nos foi imposta, por CIRCUNSTÂNCIAS NADA AGRADÁVEIS, consistia em barreiras que, por mais que tentasse, não conseguia transpor. As tentativas eram sempre frustrantes. No momento do encontro ou da despedida: um abraço “frouxo” e um “tchau” sempre seco viraram hábito. UM HÁBITO DETESTÁVEL. Isso me incomodava cada vez mais. Numa noite, aproveitei que estava sozinha e liguei pra ele.  Ao final da conversa trivial, num ímpeto de alguém que não poderia mais esperar, eu disse: “PAI, EU TE AMO VIU?” 

(...) Do outro lado da linha: SILÊNCIO ABSOLUTO

(...) “Pai?” - perguntei.  Ouvi apenas: “Oi fia. Fica com Deus.” (SIC) Foi um dos momentos MAIS DIFÍCEIS DA MINHA VIDA. Meu estômago doía. E doía porque era como se alguém tivesse ENFIADO O BRAÇO INTEIRO PELA MINHA GARGANTA PARA ARRANCAR O “EU TE AMO”. Chorei muito. Chorei pela dor. Chorei pelo silêncio e; depois, chorei de alívio: consegui dizer. 


TENSÃO: como seria quando nos encontrássemos pessoalmente? Árduo percurso. Nos primeiros encontros, ao dizer ao meu “eu te amo”, ele respondia “OBRIGADO”. Não sei o que passava pela sua cabeça. Eu não estava lhe fazendo nenhum favor. Passei anos repetindo os mesmos gestos e ouvindo a mesma palavra: “Obrigado.”. Anos depois, do “obrigado”, avançamos para o “EU TAMBÉM!”. O que me soava como “saúde” diante de um espirro! Devo dizer que aprendi a me contentar com o “EU TAMBÉM” como resposta. E, mais, tinha muito medo de não ouvir mais isso. E assim foi até a data do nosso ÚLTIMO ENCONTRO em sua casa; quando, na hora de me despedir, o abracei e disse: “EU TE AMO PAI.” E ele, finalmente, com uma voz calma disse: “EU TAMBÉM TE AMO FILHA!”. Foi o abraço mais demorado de nossas vidas. Chorei.  Desta vez, de CONTENTAMENTO. Uma semana depois, ELE SE FOI. 


 ► SEGUNDO SINAL (meados de 2012):

Já havia começado a pensar mais profundamente no significado da expressão "eu te amo" no dia em que senti que amava meu namorado EDSON KEMMER. Ao tomar coragem para me declarar, alguns meses depois de estarmos juntos... Li a seguinte e INESQUECÍVEL resposta (por sms): “Que coisa boa de saber. Espero em breve poder retribuir...”. MEU DEUS! COMO ASSIM?! (rsrrsrs). Claro que esperava um: “também te amo!”. Afinal, este era, até então, meu melhor parâmetro... Herdado do meu paizinho.  Pensei dias sobre isso e entendi perfeitamente o quanto aquela resposta havia sido HONESTA e; por isso, SUBLIME. Não me frustrei ou me aborreci. Aprendi. Entendi que o amor não “chega” de repente. Ele é “construído” conforme o ritmo de cada um. Entendi que NÃO SE AMA DE UM DIA PARA O OUTRO; DE UMA SEMANA PARA O OUTRA... DE UM MÊS PARA O OUTRO... O amor para ser dito e “redito” precisa de tempo, o tempo dele...   


Edson me ensinou algo ainda mais importante: O AMOR NÃO É UM SENTIMENTO ABSTRATO como me ensinaram na escola.  O amor é VISTO e SENTIDO. Edson não me diz muito do seu amor por mim; mas, ELE O DECLARA COM ATITUDES; com RESPOSTAS a necessidades sobre as quais nem lhe falei; com GENTILEZAS que talvez ele nem tenha se dado conta do quanto são inéditas para mim; COM SILÊNCIO, às vezes, é só disso que precisamos... Ouvir a respiração um do outro. “E o que houve com o amor à primeira vista?”... Neste, NUNCA acreditei.


 ► TERCEIRO SINAL (agosto, 2014):

Adoro conversar. Existem pessoas com as quais eu conversaria a noite toda... Outras, o trivial “Bom dia!” já é muito...  Dia destes, tive uma conversa com uma destas pessoas: minha amiga MICHELLE ROBLES ZANINI, cujo diálogo flui em consonância com os gestos e com os olhares; pessoas com um timbre de voz que não cansa, ao contrário, ele NOS ALCANÇA e prende a  atenção dos sentidos. Durante a conversa, surgiu a questão de chamar alguém de “AMOR”. Sob o ponto de vista de Michelle, chamar alguém de “amor’ é por demais ‘genérico”, qualquer um pode ser chamado de amor. A ex-namorada era “amor”; a anterior à ex também... E a próxima também será... De certa forma, é um prejuízo de IDENTIDADE. 
 

Desde o dia em que eu e Michelle conversamos – certamente, por se tratar de uma pessoa sensível e especial (o que pode parecer um paradoxo, mas não é rsrs) – a palavra “amor” já não flui mais tão facilmente como antes no meu dia a dia. Chamar alguém de “amor” passou a ser algo FORTE e PESADO DEMAIS pra mim. E,  caso escapasse, era como se cometesse uma blasfêmia e, dependendo da situação, deixava um gosto ruim n boca... E muitos “ruídos” a me perturbar: “QUEM É MEU AMOR?”; “QUEM SÃO MEUS AMORES?”; “AMO COISAS OU PESSOAS?”... Inclusive, pensei no famoso slogan “AMO MUITO TUDO ISSO.”... Quem é ou o que é “TUDO”? Quem ou o que é “ISSO”... NINGUÉM AMA TUDO E MUITO MENOS ALGO QUE POSSA SER CHAMADO DE “ISSO”. Como professora de Língua Portuguesa, percebo, agora, que  em muitos casos a palavra (ou o "chamamento") "amor" se transformou num vício de linguagem.



 
► QUARTO SINAL (início de Setembro, 2014):


 VICTOR EDUARDO MARQUES. Conheço Victor há três anos. É impressionante como a autêntica EXPRESSÃO de seus sentimentos me causa ADMIRAÇÃO. Ele é uma das pessoas que falou comigo e que me ensinou como se fosse meu pai. Ele me ensinou que amar é muito difícil e que AMOR NÃO É OBRIGAÇÃO, nem mesmo quando se trata de alguém muito próximo. 

Com uma propriedade de quem “viveu séculos”, me disse que para era amado é preciso MERECER; logo, só ama a quem mereça seu amor.  Seus argumentos sólidos; sua voz firme e seu olhar confiante me CONVENCERAM e COMOVERAM, me tornei sua cúmplice no que se refere às suas ideias e  ideais sobre  as relações entre “AMOR E MERECIMENTO.”



 ► QUINTO SINAL (meados de setembro, 2014):


(Perceberam como os fatos começaram a surgir amiúde?)

Apesar de saber que aquelas páginas “printadas” que chegaram às minhas mãos me causarão ASCO todas as vezes que delas me lembrar, devo agradecer de algum modo; pois elas me alertaram para outro aspecto relacionado ao amor:  O USO INDISCRIMINADO E MAL INTENCIONADO DA PALAVRA. O trecho da “conversa” que segue foi “printado” de uma página do WhatsApp . Não postei o “print” da página porque se trata de uma conversa entre um “ADULTO” (por falta de adjetivo censurável) e de uma menina de 10 anos de idade. Além disso, o plano de fundo da página identificaria a mãe da criança. A propósito, o trecho é mais um monólogo que um diálogo; pois, assim que a criança lê o primeiro palavrão, ela entrega o celular à mãe...


 “(...) – AMOR, vc tá sozinha?

- Meu AMOR, preciso tocar em você.

- Sabia que vc já é uma mulher meu AMOR? E que é muito Gostosa?

- Fico imaginando vc nua AMOR. Vc está gostando AMOR?

- Vou (.......) logo meu AMOR. E vc?

- Prometo que vc vai gostar AMOR.- Pode ser agora AMOR?”(sic)


 Recuso-me a transcrever mais que isso. Porém, posso garantir que as falas do adulto adquirem proporções BIZARRAS, NAUSEANTES... Os palavrões não têm limites. A certa altura, o adulto desconfiado do silêncio da menina pergunta: “Porque vc está tão quieta meu AMOR?” (sic). E a mãe da criança que, neste momento, já estava com o celular, responde apenas “Nossa!”, com o objetivo de “coletar” o máximo de “provas” possível. Não entrarei no mérito de um acriança de DEZ ANOS possuir um aparelho com tal recurso. Esta é outra discussão... Além disso, informo que a DENÚNCIA foi feita e os PROCEDIMENTOS LEGAIS já foram tomados.


 Obviamente, a questão da pedofilia caracterizada pelo “sexo virtual” (assédio moral) me impactou profundamente. Mesmo agora, dias depois, ao escrever sobre este assunto, sinto NOJO e REPULSA. Lembro-me exatamente do rosto do adulto (fake, claro, mas me lembro). Contudo, o emprego da palavra “AMOR” em TODAS AS FRASES (exatamente todas!), provocou em mim um “Tsunami de sensações”: Amor? Que Amor? Quem é o “amor” dele? O que é “amor” para ele? O que ele sabe sobre ela para chamá-la de “AMOR”? Que amor doentio é esse? Amor que VIOLENTA moral, emocional e sexualmente? AMOR QUE MANIPULA? Depois disso tudo; depois desse “embrulho providencial” que, literalmente, me fez vomitar ( no caso da situação descrita), raramente, escapa um “meu amor” indevido (agora sei!); mas, logo sei que terá sido a ultima vez. Porque, em menos de um segundo, arrependo-me de ter dito, engulo e vomito. 

Nunca mais direi, em vão, sobre o amor...  Creio que, caso eu tivesse procurado intencionalmente um exemplo para a BANALIZAÇÃO e para “O USO INDEVIDO” da palavra amor, não teria encontrado “exemplo” mais FORTE, REAL e IMPACTANTE. Estas “facetas do amor”, se é que posso chamá-las assim, para mim, INEXISTEM. Simplesmente não as considero “variações” do sentimento mais nobre do mundo... Não são fraternais e nem passionais. São IMUNDAS e INCONCEBÍVEIS.   

ADOECI POR ALGUNS DIAS (...). Foram dias nauseantes em que não conseguia comer... 


Posso assegurar que, se algum dia, lhe chamei de “amor”, não agi com má intenção; mas, provavelmente, depois de ler este artigo, você saberá se fui VERDADEIRA ou NÃO. Além disso, se eu não sou sua namorada; senão consto na lista de seus melhores amigos; não sou sua parenta (em certos casos, isso pode até ser vantajoso; pois tenho alguns parentes pelos quais NÃO TENHO O MENOR AFETO! Ao contrário, sinto por alguns deles o que Paulo Freire chamou de JUSTA IRA; ou seja, motivos não faltam...), muito provavelmente, o “eu te amo” que você ouviu não SIGNIFICA MAIS NADA PARA MIM. Na ocasião, pode ter sido, no máximo, um gesto de carinho. Pois, meiga sei que ainda sou. (rsrs). E isso não tem nada a ver com amor. 



Não sou capaz de definir “amor”; mas sei que é um sentimento que não pertence ao LUGAR COMUM.   Confesso, inclusive, que trabalhar a “DESBANALIZAÇÃO” do amor foi como ter de “cortar na carne” muitos hábitos. Conheço-me. Ou faço assim ou protelo... Então, mudei muito (ao ponto de sentir a falta do que fui, mas não tanto ao ponto de voltar a ser o que fui); mudei nas minhas atitudes; nos meus escritos; nas minhas falas... A palavra “AMOR” e a expressão “EU TE AMO” agora são ditas para POUCAS PESSOAS e em RARAS CIRCUNSTÂNCIAS.


Agora, sim, sei que amei menos do que achei que fosse e mais do que deveria. Amei poucos e agora amo menos pessoas ainda. Não amo “coisas”! Continuo romântica; mas uma romântica menos impulsiva; porque descobri que meu amor é por demais valioso... AS PESSOAS AMADAS POR MIM SABEM DISSO E, DEPOIS DESTE “ARTIGO-CONFISSÃO”, terão ainda mais CERTEZA disso; porque elas perceberão o quanto as palavras fluirão levemente... SERÃO PALAVRAS SEM EFEITOS ESPECIAIS; desacompanhadas da afetação que a falsidade e que a superficialidade exigem... Não tenho mais "ex - pseudoamores", apenas AMORES VERDADEIROS. 

Meu sentimento em relação ao amor não foi abalado. Modificado, sim.  Já não o  confundo mais com o afeto e com o ato de gostar. Gostar é fácil... Assim como, desgostar...  Amar é difícil; assim como é difícil “desamar”. Amor é SÓLIDO, mas não é passivo. Amor é SELETIVO, porque se torna raro e escasso a cada dia... Acredito até que chegará um tempo em que AMAR E SER AMADO será considerado um verdadeiro LUXO!


Portanto, se eu lhe chamar de “MEU AMOR” ou se lhe disser “EU TE AMO” – C – O – M – T – O – D – A – A – A – S – L – E – T – R – A – S, tenha certeza de que  estará recebendo o que  de mais valioso trago comigo.




RECOMENDO (para reforçar nossa crença no amor) um artigo baseado numa HISTÓRIA DE AMOR REAL:  

http://educandoquem.blogspot.com.br/2013/06/o-amor-nao-cura-e-nem-tem-cura.html



  

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