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EDUCAR É, ANTES, SENTIR... E TODOS SÃO CAPAZES DISSO.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

ALMA QUE TE QUERO VER... (SOUL THAT YOU WANT TO SEE ...)

POR MARI MONTEIRO



(...) Artigo iniciado em 26/03/2014.


O que espero, de verdade, é que após ler este artigo (assim como eu ao revisitá-lo) SEJAMOS MAIS SABEDORES DE NÓS MESMOS. Muito crédito à escrita? Pode ser! “SQN”. Trata-se do desejo de que sejamos REVIRADOS DO AVESSO diante de um espelho que possa refletir a nossa ALMA. Consegue visualizar esta imagem? Forte? Sim. PROVOCANTE? Também.


Estive pensando e seria muito egoísmo meu pensar sobre isso sozinha: O MEU AVESSO; prefiro NOSSO AVESSO. Se nós consideramos difícil olhar no espelho e fitar os próprios olhos por algum tempo, na tentativa de encontrar-se consigo mesmo, imagine tentar ENXERGAR POR DENTRO.


A propósito, O QUE SOMOS POR DENTRO? Órgãos, células; água; sangue; vísceras?  Sinceramente, e sem subestimar, anatomia é o que menos interessa nesse momento. A maioria de nós possui conhecimentos básicos a este respeito.


Falo da ALMA; do ESPÍRITO; da ESSÊNCIA ou outra denominação equivalente. Por uma questão de entendimento, a denominação usada neste artigo, para me referir ao NOSSO LADO DE DENTRO, será ALMA. A principal questão é: podemos enxergar a própria alma? E se nós pudéssemos como ela seria? De que cor seria? Qual sua forma?


Convido você a conjecturar. Caso fosse possível fotografar a própria alma, o que veríamos? Paro para pensar. As sensações e imagens que me vem à mente são muito diversas e adversas. Meus questionamentos e devaneios serão registrados neste artigo. Porém, isso não levará a NADA se a troca não for possível. Uma conversa é necessária. Precisamos SABER UNS SOBRE OS OUTROS.  Então, sugiro que este artigo dê origem a um “FÓRUM” para que possamos prosear e – quiçá – nos conhecer melhor.


(...) 29/03/2014


O Dicionário Priberam de Língua Portuguesa traz 23 possíveis definições de alma:
1. Parte imortal do ser humano.
2. Pessoa, indivíduo.
3. Habitante.
4. Índole.
5. Vida.
6. Consciência.
7. Espírito.
8. Agente, motor principal; o que dá força e vivacidade.
9. Essência, fundamento.
10. Entusiasmo, calor.
11. Ânimo, coragem, valor.
12. Ente querido.
13. Interior da arma de fogo.
14  Peça de madeira no interior do violino.
15. Parte bicôncava do carril entre a cabeça e a patilha.
16. Pedaço de cabedal entre a sola e a palmilha de um sapato.
17. Pedaço de sola que fortalece o enfranque do calçado.
18. Válvula do fole.
19. O vão entre o calcanhar e o joanete.
20. O vão da maçaroca, do novelo, etc.
21. Chancela ou sinete de carta.
22. Mote de divisa.
23. Peça interior do botão coberto.

"alma", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/alma [consultado em 10-04-2014].

Confesso que estas definições me são muito familiares; mas me detive apenas até a 12ª, talvez, porque estas me soaram mais “HUMANAS”. Mas nada me intriga mais do que a sinopse do filme “21 GRAMAS”, dirigido por  Alejandro González Iñárritu e com um elenco respeitável (RE –CO –MEN –DO).   Eis a sinopse: “Três pessoas, Paul (Sean Penn), Jack (Benicio Del Toro) e Cristina (Naomi Watts), têm seus destinos cruzados em função de um acidente. A partir dele serão testados os limites do amor e da vingança, assim como a promessa da redenção. Vinte e um gramas é o peso que uma pessoa perde no momento da morte. É o peso carregado pelos que sobrevivem.” (http://www.adorocinema.com/filmes/filme-47795).


A primeira coisa que me vem à mente é: caso eu pudesse ENXERGAR MINHA ALMA, será que me alegraria com a visão? Penso isso porque há dias nos quais sinto medo até do meu “reflexo físico” no espelho. Imagine, num dia destes, enxergar minha alma.


Independentemente do significado técnico-científico ou religioso, vejo minha alma como uma névoa que se adapta (ou não!) ao meu corpo de acordo com o que digo, penso ou faço. Como a névoa é algo volátil e, como tal, muda não apenas de forma, mas também de cor e densidade. Por exemplo, neste momento, escrevo tensa, minha cabeça pesa e dói. Estou irritada e cansada. Penso que minha alma esteja pesada e opaca. ESTÁ UM DESASSOSSEGO SÓ!


(...) 31/03/2014 


Confesso que este é o artigo mais demorado e fragmentado que já escrevi. Fiz várias pausas. Todas as vezes que minha alma se calou, parei. Todos nós temos vez ou outra, bloqueios para escrever. Mas, neste caso, é diferente. É quase UMA NEGAÇÃO. É um não querer. Mais que isso: cada pausa que faço representa uma espécie de impedimento. Estas pausas longas me fazem pensar o seguinte: OBEDEÇO MINHA ALMA. E, por que digo minha alma e não meu cérebro? Porque, se fosse um ato exclusivamente racional (usasse apenas meu cérebro em nome da razão), eu continuaria escrevendo...


(...) 04/04/2014


Cada vez que volto de uma pausa, releio tudo que foi escrito. A caneta pesa. Há muitas rasuras nos meus manuscritos (escrevo muito à mão). Aí me lembro de algo que digo sempre aos meus alunos: “Façam sempre rascunhos. Escrevam, antes, com a ALMA. Depois, revisem com a RAZÃO.” Não sei por que motivo, com este artigo, isso não está funcionando. Há dias escrevo e pareço não ter encontrado ainda o “fio da meada”. Isso me incomoda... Nunca havia experimentado isso antes. Meus pensamentos e manuscritos sempre fluem. Os bloqueios que já tive até então foram breves e, quando retomava a escrita, o pensamento corria mais rápido que meus dedos...


(...) 06/04/2014


Devido ao tempo das pausas, a cada vez que retomei este artigo, me sentia de um jeito único. Isso dever ter sido um aspecto positivo, pois comecei a perceber que, a cada retomada, tentava enxergar a forma da minha alma. Nesta altura da escrita, as pausas já não me incomodam mais. Elas tinham uma razão de ser. Porém, foi necessária muita abstração para perceber os POSSÍVEIS DESENHOS DA MINHA ALMA. Quando estava feliz, enxerguei minha alma transparente, pude ver através dela e ela tinha o formato exato do meu corpo. Quando estava insegura, vi minha alma trêmula. Quando estava apaixonada, vi minha alma colorida e efusiva, ultrapassava os contornos do meu corpo. Quando estava cansada, vi minha alma disforme e escura, uma escuridão que cercava meu ser...

ALMA (Arnaldo Antunes)

“Alma, 
deixa eu ver sua alma
A epiderme da alma,
superfície.

Alma, 
deixa eu tocar sua alma
Com a superfície da palma,da minha mão, 
superfície (...)

Alma, 
isso do medo se acalma
Isso de sede se aplaca
Todo pesar 
não existe
Alma, 
como um reflexo na água
Sobre a última camada
Que fica na superfície, (...).

Abra a sua válvula agora
A sua cápsula alma
Flutua na 
superfície lisa, que me alisa, seu suor
O sal que sai do sol, da superfície
Simples, devagar, simples,
bem de leve a alma já pousou, na superfície.”.


(...) Algumas horas depois...


Foram tantas as nuances vistas. Tenho ciência de que tudo foi subjetivo: as cores; as formas; as sensações. Ocorre-me que, talvez, não haja outra maneira de enxergar a alma. E, se assim for, muito do que NÃO É ESSÊNCIA perde ainda mais seu VALOR. Nenhuma roupa, por mais cara que seja, é capaz de colorir uma alma triste. Nenhuma maquiagem, por mais que disfarce as imperfeições e ilumine a face, não é capaz de iluminar uma alma que está na escuridão.


(...) 09/04/2014


Neste retorno, minha alma quer parar de “pensar” sobre si mesma. Aquela curiosidade do início do artigo abrandou. Não sei você, mas eu não me esforçarei mais para tentar enxergar nossas almas. Pelo menos não como fiz comigo. Descobri que minha alma NUNCA É A MESMA e mutante que é sempre me surpreenderá; assim como, a alma do outro. Contudo, prestarei mais atenção AOS SENTIMENTOS DO OUTRO e; sobretudo, AOS MEUS SENTIMENTOS.


(...) 10/04/2014


Parando por aqui, para mim, fica valendo o antigo preceito de que “os olhos são as janelas da alma.” Este par de olhos delatores... Somos capazes de fingir com todas as partes do corpo: um riso forçado; um gesto para disfarçar um embaraço... Mas os olhos tem vontade própria. Assim como piscamos sem nos darmos conta disso, eles REVELAM a alma. É através deles que a alma se apresenta. QUEM CONSEGUE POR DE VOLTA A LÁGRIMA DERRAMADA? Ou esconder as marcas de expressão que encolhem nossos olhos quando rimos? Nesses momentos quem fala é alma que, bem lá do fundo, estará sempre a nos fitar como quem se deslumbra com uma imensa vitrine. De que? Daquilo que escolhemos ter por perto.


Mari Monteiro (Outono, 2014)

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