Translate

EDUCAR É, ANTES, SENTIR... E TODOS SÃO CAPAZES DISSO.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

SÉRIE IMPRESSÕES: “FOMOS MAUS ALUNOS" (Rubem Alves e Gilberto Dimenstein)

POR MARI MONTEIRO

E se  lhe pedissem para traçar seu próprio perfil como aluno? Que tipo de aluno você foi ou ainda é? Numa conversa descontraída e bem humorada Rubem Alves e Gilberto Dimenstein abordam suas peripécias, curiosidades e desejos durante o período escolar. A obra “Fomos maus alunos”, escrita na forma de diálogo, incita-nos a relembrar muitos momentos da nossa vida escolar. O que é muito interessante; sobretudo para pais e educadores, pois nos mostra o quanto as posturas mudam de geração para geração.

Outra reflexão pertinente, trazida pela obra, é sobre a ESTAGNAÇÃO da escola (física e pedagogicamente). A maioria dos professores de hoje ainda espera que seus alunos se comportem como ele se comportou e, pior, que REAJA aos mesmos “ESTÍMULOS” que lhe foram oferecidos. Doce ilusão. Trágica constatação!


No decorrer da obra, os pensadores conversão sobre os mais variados temas; inclusive, elaborando reflexões bem profundas a respeito de suas próprias escolas, como demonstram os trechos a seguir sobre experiência de confluência

Dimenstein - Por que você virou educador?

Alves - Tenho a seguinte teoria (eu disse só a teoria, pois não tenho provas para isso): todos nós nascemos com determinados saberes. A aranha nasce sabendo fazer teia, o caramujo nasce sabendo fazer a concha. Meu conterrâneo de Boa Esperança, Nelson Freire, é um pianista absolutamente fantástico. Por que ele ficou um pianista fantástico? Não foi porque foi ensinado, não foi porque estudou muito. Porque eu estudei muito mais do que ele e nunca aprendi a tocar piano. É porque tinha algo dentro dele. Aliás, você que é judeu. Tem um dos salmos, terrível, que diz assim: Inútil te será levantar de madrugada e trabalhar o dia todo porque Deus, àqueles a quem ele ama ele dá enquanto dormem. Eu acho que nasci educador. De repente, descobri que é uma delícia comunicar ideias. Primeiro tem o projeto de gestação. Porque você tem de ter uma ideia para comunicar, aquela coisa que pega, dá paixão, e que para mim é um jeito de fazer amor com o outro. Isso tem a ver também com a sua tradição. Porque lá na Bíblia, quando diz que o marido transou com a mulher, como é que diz? Ele conheceu a sua mulher, que é um ato essencialmente prazeroso. Acho que o ato de educar é essencialmente sexual e prazeroso.

Dimenstein - É interessante, porque conhecer, do latim, vem de nascer com.

Alves - Eu não sabia!

Dimenstein - Só se conhece, de fato, alguma coisa quando nascemos com ela. Só entendemos a poesia quando nos emocionamos na descoberta de suas metáforas.

Alves - Às vezes, as pessoas me perguntam: Quem foi que influenciou você? Eu digo: Ninguém. Não tenho memória de alguém que tenha me influenciado. Influenciar é uma coisa que vem de fora para dentro. Eu tenho a experiência de confluência. Confluência é quando você bate com uma pessoa. Sabe quando você tem duas taças de cristal? Você bate as taças e as duas, então, reverberam. Há pessoas que bateram em mim e eu descobri coisas dentro de mim que ninguém me ensinou, mas eu descobri que as coisas estavam dentro de mim. Então, para mim, o educador tem muito a ver com isso. Você vai lá provocar, não para ensinar alguma coisa à pessoa. Isso é a teoria socrática da educação. Sócrates dizia que todos nós estamos grávidos de beleza, e que a tarefa do educador, como na história de A Bela Adormecida, é dar o beijo, o beijo para despertar uma inteligência que estava adormecida. (...)” (Op. cit.)
Gilberto Dimenstein e Rubem Alves 

Sempre admirei muito Rubem Alves. Há aqueles que o acusam de “autor de autoajuda para professores”. Não concordo. Mas, ainda que o fosse QUEM DISSE QUE, NÓS, OS PROFESSORES NÃO NECESSITAMO DE AJUDA? Pois, eu sempre precisei. E, confesso, sempre que o desânimo me alcança (e CANSA!), meus percorrem minhas estantes à procura das palavras de Rubem Alves. Há trechos, textos, versos, poemas, crônicas e causos para toda ocasião. Ou então, o que é mais eficiente ainda, eu vejo um DVD dele que veio num de seus livros. E COMO O SEU FALAR PAUSADO ME ACALMA... 


O efeito sobre mim deve ser maior, porque já tive o prazer de ouvi-lo ao vivo. Num espaço para aproximadamente 1000 pessoas (completamente lotado), restou-me sentar na última fileira. Pensei: “não ouvirei  nada." Para minha surpresa, quando  Rubem começou a falar, com seu sotaque macio, era possível ouvir até sua RESPIRAÇÃO. Que encantamento. Saí de lá embevecida e pensando sobre a relação que ele faz entre o PÔR DO SOL e a MORTE. A morte de cada dia; por isso: CARPE DIEM!


Nesta tarde, após a palestra, ao invés de ir para a faculdade, procurei um lugar na cidade de onde pudesse ver o sol se por completamente. O aspecto urbano do local não maculou meu encanto. Vi um por de sol como nunca havia visto. E, desta tarde em diante, aprendi que morremos um pouco a cada dia/ que a vida é UMA CONTAGEM REGRESSIVA e que, portanto, devo viver cada momento com intensidade e com vontade... sem desperdícios. Algum tempo depois tatuei: " TEMPUS FUGIT. CARPE DIEM"...


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

MEMÓRIAS DE UM CORPO QUE DÓI

POR MARI MONTEIRO



Já aviso: Não foi fácil compartilhar este texto. Foi quase uma CONFISSÃO. Ato que exigiu de mim muita HUMILDADE e uma boa dose de CORAGEM. Falar da condição dos outros é algo fácil e vil; mas falar da própria condição, é algo que se assemelha a um ato cirúrgico invasivo, que tira de dentro coisas que até eu mesma desconhecia...

Não há como não pensar. Nem como não sentir. Está por toda parte: nos olhares; nas asperezas das palavras ditas (ou não)  pelos outros; nos burburinhos pelos cantos; nos rótulos negativos e pesados que recebemos... Nas palavras não ditas e tão bem guardadas. Em momentos assim, sinto-me só. Extremamente só, onde quer que eu esteja. É por isso que gosto tanto de estar no meu quarto, porque lá a SOLIDÃO FÍSICA é real; logo, dói menos que a solidão acompanhada.

Digamos que eu decida (e já fiz isso muitas vezes) NÃO SOFRER MAIS, seguindo à risca as máximas de que “sempre somos capazes de curar a nós mesmos”; “que depressão é frescura”; "QUE TUDO NÃO PASSA DE ALGO NEGATIVO QUE, POR ACASO, ENFIAMOS NA CABEÇA” e outros tantos clichês que ouço quase que diariamente. Então, amanhece e, decidida, opto por não sofrer hoje, por não me entristecer com nada, por não me deixar abalar. Ok. Decisão tomada. Saio de casa para “colher” mais um dia e debitar um dia da minha vida. Duas horas depois, no mínimo, já me deparei com duas ou três situações que me incomodaram. Quando digo incomodaram, por favor, entendam como algo tão forte, que senti fisicamente. Uma dor que varia entre um leve roçar de um espinho a um corte profundo e lento com uma faca serrilhada.


Pois bem. O que faço agora? Espero a dor passar? Finjo que não estou sentindo nada? Não sou muito boa nisso. Atingi um estágio da minha luta contra a “depressão” que, se guardar algo que deveria ter sido dito e não foi, aquilo sai de dentro de mim em forma de vômito. Mas não um vômito qualquer. É um vômito acompanhado de dores LANCINANTES. Então, na maioria das vezes, eu DIGO. Com toda diplomacia e educação do mundo, DIGO olhando bem no fundo dos olhos... Não que isso me cure de vez. Mas sinto-me menos covarde, mais autêntica e meu corpo dói menos.

E as frases feitas ouvidas quase que diariamente? Não as suporto mais. Primeiro, porque são tão clichês, que as pessoas as expressam  “no automático”. 

Segundo, porque já sei que não são verdadeiras. NÃO ACONTECEM! Por exemplo: “Tudo passa” (Tudo o que cara pálida? Cada um tem um ‘tudo’ diferente que pode ou não passar); “Vai ficar tudo bem!” (Quando vai ficar tudo bem?); “Não chore, você precisa ser forte!” (Essa é demais pra mim; por que devo engolir um choro que pode trazer algum alívio?); “Fulano passou por isso e está ótimo!” (Bom pra ele. Além disso, o “isso” dele pode não ser o “isso” meu). E por aí vai...

Sabe o que ajudaria muito? Se as pessoas, além de entender um pouco mais sobre a depressão, parassem de generalizar, de nivelar os acontecimentos, como se todos os problemas; todas as circunstancias e todas as pessoas fossem iguais. Não somos. CADA UM SENTE A DOR NUMA FREQUÊNCIA E NUM GRAU DE INTENSIDADE DIFERENTES. Um fato que pode me causar uma dor aguda pode ser irrelevante para outra pessoa. Porque não é só o fato em si. São as circunstâncias; sãos as fragilidades; as vivências pessoais somadas... E aquele fato, irrelevante para alguns, pode ser a gota que fará transbordar o copo para mim ou para você.

Em tempo, preciso avisar que me chamar de FRACA não ajuda em nada. Além de ser algo que não me traz nenhum constrangimento, é minha condição (oxalá algo temporário); portanto, respeite-a. Além disso, assumir a própria fraqueza é um ato de EXTREMA CORAGEM. Principalmente, porque não sobra muita disposição a alguém deprimido para escolher “ARMADURAS” e “MÁSCARAS” para fingir sensações. Nunca experimentei usá-las, mas tenho certeza de que causaria um imenso desconforto, capaz de deixar meu corpo ainda mais dolorido.
Ajudaria muito também se as pessoas parassem de me pedir para não chorar... Já sorrio tanto. Se não me chamassem de fraca... Tomei coragem e renunciei a tantas coisas. Se não me pedissem pra fingir que está tudo bem... Tenho orgulho da minha autenticidade. Se não duvidassem da intensidade dos meus sentimentos... Sei o quanto são reais. Se não me rotulassem... Sei exatamente quem sou. E, acredite TUDO ISSO TEM UM LADO BOM: A INTENSIDADE. Quando estou triste, estou intensamente triste; mas se estou feliz, estou intensamente feliz...
Aprendi muito... Sobretudo a ser feliz “APESAR DE” ... e não “POR CAUSA DE”. Isso é imensamente bom; sobretudo, porque, agindo desta maneira, não deposito minhas expectativas num só pilar e, muito menos, em questões materiais. Valorizo cada momento; todo gesto de bondade; cada abraço; cada riso; cada lágrima e cada minuto que tenho com aqueles que amo.
Ah! Só mais uma coisinha: Não sinta culpado a se, por acaso, em algum momento você foi uma das muitas pessoas que me julgou. Eu não me sinto culpada de nada. Além disso, sinta-se PLENAMENTE PERDOADO. Porque sou muito boa nisso. Reconheço meus erros, peço desculpas e perdoou com facilidade... Aprendi que estas ações fazem parta da CURA! Escrever nossa própria história é importante, mas ter a coragem de contá-la é essencial. Sobretudo, porque NÃO SOU PERFEITA em muitas coisas; assim como você não o é em tantas outras; portanto, RESPEITEMO-NOS e já teremos avançado muito rumo à "cura" para as dores da alma que transbordam, fazendo doer o corpo...


COMENTE!