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EDUCAR É, ANTES, SENTIR... E TODOS SÃO CAPAZES DISSO.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O ENSINO DE POESIA NO ENSINO MÉDIO: RELATO DE EXPERÊNCIA

POR MARI MONTEIRO


Quem são os cegos do castelo? (artigo baseado na letra: “Os cegos do castelo” – Nando reis)

 Uma das tarefas mais difíceis, a meu ver, nas aulas de Literatura, é promover o gosto pela poesia e pela disposição de interpretá-la. Por isso, sempre que posso (e percebo que os autores dos livros didáticos também o fazem) promovo a leitura de letras de música e realizo a associação destas com a poesia. Este artigo conta um pouco desta experiência a partir de uma atividade de interpretação da letra "Os cegos do castelo", de Nando Reis.


Creio poder afirmar, com certa tranquilidade que, em determinados momentos da nossa vida, todos ficamos “cegos” para algumas coisas.  Os motivos? Muitos. Não sofrer ou sofrer menos, por exemplo. Pois, quanto menos profundamente ENXERGO, menos SEI, menos SINTO, menos SOFRO.
Castelo medieval na Romênia (sempre que ouço esta canção... me vejo fugindo de um castelo semelhante...)

 Porém, a referida letra de Nando Reis (meu compositor contemporâneo preferido) merece um zelo minucioso em cada verso ou estrofe. O que é uma coisa muito particular, porque, a menos que pudéssemos ter uma conversa franca e particular com o autor, jamais saberíamos  suas reais intenções ao escrever determinado poema. Daí o ENCANTAMENTO da poesia. Ela pertence aquele que a lê, alternando as nuances de acordo com as circunstâncias e com o estado de espírito em que se encontra o leitor. Diante disso, para começar, eis a composição:



“Eu não quero mais mentir

Usar espinhos que só causam dor

Eu não enxergo mais o inferno que me atraiu

Dos cegos do castelo me despeço e vou

A pé até encontrar

Um caminho, o lugar pro que eu sou. Eu não quero mais dormir

De olhos abertos me esquenta o sol

Eu não espero que um revólver venha explodir

Na minha testa se anunciou

A pé a fé devagar

Foge o destino do azar que restou. 

 E se você puder me olhar

E se você quiser me achar. E se você trouxer o seu lar.  Eu vou cuidar, eu cuidarei dele. 

Eu vou cuidar do seu jardim. Eu vou cuidar, eu cuidarei muito bem dele. Eu vou cuidar. Eu cuidarei do seu jantar. 

Do “céu e do mar, e de você e de mim.” (refrão)

Link http://www.vagalume.com.br/nando-reis/os-cegos-do-castelo.html#ixzz2grj8VmP7 (acesso em 04/10/2013)


 Comecemos pelos dois primeiros versos: “Eu não quero mais mentir/Usar espinhos que só causam dor.” Pressupõe-se que o eu lírico esteja cansado de mentir e de sentir dor. Sabe que a mentira traz consequências que doem. Além disso, faz uma analogia entre mentira e espinhos. Ele inicia seu poema tomando um posicionamento: NÃO QUERER MAIS MENTIR.



Para que isso aconteça, de fato, ele precisa “abandonar” certas atitudes, pessoas e lugares, o que ele denomina de “CEGOS DO CASTELO”. Isso fica muito evidente nos versos seguintes: “Eu não enxergo mais o inferno que me atraiu/ Dos cegos do castelo me despeço e vou. / Nesse sentido, o eu lírico está ciente do que deve fazer:” Ele deve deixar para traz tudo que o atraia e que, mesmo assim, causava dor e sofrimento. Nesse sentido, o eu lírico está ciente do que deve fazer: “A pé até encontrar/ Um caminho, o lugar pro que eu sou.” Ou seja; ele sabe o quanto terá de caminhar até alcançar seus objetivos, até se redescobrir e descobrir um lugar onde ele possa ser plenamente feliz.
 

A segunda estrofe, provavelmente seja a mais complexa do poema. Ela denota o temor da distração (“Eu não quero mais dormir”), como se, ao distrair-se, algo de muito ruim pudesse lhe ocorrer. Ele ainda se mostra enfraquecido na sua fé e no seu otimismo (“A pé a fé devagar/ Foge o destino o azar/ Que restou”).


 
Nas estrofes seguintes (o refrão), o eu lírico denota esperança em dias melhores. Ele acredita que, caso encontre (ou reencontre) a pessoa amada, tudo poderá ser diferente. Diante de uma ENTREGA, de uma confiança incondicional (“E se você trouxer os eu lar”); ou seja, se a outra pessoa vier INTEIRA para ele, ele também se entregará e cuidará bem de tudo que lhes pertence. Quando o eu lírico diz: “Eu cuidarei do seu jantar/ Do céu e do mar, e de você e de mim”, ele se compromete a se dedicar de corpo e alma a um amor SEM MENTIRAS, onde haja RECIPROCIDADE, ZELO e, consequentemente, MENOS "ESPINHOS"... 



Daí  emerge a questão:
“QUEM SÃO OS CEGOS DO CASTELO?”. Eu? Você? Todos que mentem? Todos que não cuidam das pessoas amadas? Todos cuja fé não é forte o suficiente para confiar no semelhante e dormir em paz?  


Numa visão muito particular, acredito que seja tudo isso junto. E, assumindo uma posição ainda mais particular, também desejo para mim esta RUPTURA: DESPEDIR-ME DOS CEGOS DO CASTELO E SEGUIR... Para onde? Para onde ninguém sofra por mentiras; para onde não haja espinhos e nem dores. UTOPIA? Sim... Mas, por que não sonhar? E foi assim que decidi realizar uma atividade para dividir este sonho: solicitei aos meus alunos que ouvissem a canção, pensassem sobre um determinado verso e registrassem suas impressões, as quais os convido para conhecer agora. São "CAMINHOS" surpreendentes! Garanto! A questão é a seguinte:


 ► Releia o verso: “(...) a pé até encontrar um caminho, um lugar pra o que eu sou. (...)”. Caso você encontrasse este caminho, descreva detalhadamente como ele seria? (sinta-se à vontade para descrever também o seu caminho...)

 

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