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EDUCAR É, ANTES, SENTIR... E TODOS SÃO CAPAZES DISSO.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

LER E INTERPRETAR: A QUEM INTERESSA?

POR MARI MONTEIRO






O que você está prestes a ler são palavras IMPACTANTES; sobretudo às Alma sensíveis dos educadores que AINDA ACREDITAM nas possibilidades de aprender a LER e a ESCREVER com propriedade; com o discernimento necessário para não ser manipulado ou ludibriado pelos meios de comunicação ou por qualquer outra forma que exija uma interpretação mais aguçada dos fatos. E não estou falando da “enganação” do clichê: “aprendemos a ler e a escrever durante toda a vida”. ISSO É BALELA! Uma desculpa esfarrapada dos profissionais (há muitas exceções) para justificar a grande soma de alunos que, ao final do QUINTO ANO não leem com fluência e, muito menos, interpretam!


Este artigo é sobre este FINGIMENTO GENERALIZADO que permeia o sistema de ensino brasileiro. Somos uma VERGONHA MUNDIAL no quesito interpretação de texto. Diante disso, as citações e argumentações aqui contidas são dirigidas a nós, professores, porque antes de tudo, NÓS PRECISAMOS GOSTAR DE LER, DE ESCREVER E DE INTERPRETAR... E conheço reinos “não tão distantes” em que os profissionais da educação não leem, não interpretam e tem raiva de quem o faz!


Ser escritor é falar das coisas que sabemos sem saber que o sabemos. Explorar esse saber e compartilhá-lo é um PRAZER: o leitor visita um mundo que é ao mesmo tempo familiar e miraculoso. Quando um escritor toma suas feridas secretas como ponto de partida, outorga grande confiança à humanidade, conscientemente ou não. Minha confiança vem da crença de que todos os seres humanos são SEMELHANTES, que outros carregam feridas parecidas com as minhas e que, portanto, poderão compreender.” (ORHAN, Parmuk)


Quando leio ou escrevo, me distancio do que sou agora. Posso ser ou estar onde eu quiser. Neste suposto refúgio, eu me exponho. Exponho o que, antes, era só meu. Compartilho. Ao compartilhar, mudo de ideia, tropeço em minhas certezas, enxergo outras perspectivas... Vou seguindo, revendo conceitos, revirando gavetas, redecorando meu ser em PERMANENTE CONSTRUÇÃO. Neste sentido, compartilho da ideia de Catherine (texto abaixo):


 “Quando estou muito deprimida, vou ver uma exposição, procurando outra coisa, em outro lugar. Quando o exterior é belo, me imagino bela no interior, é uma espécie de reflexo. Uma coisa bela apaga todo o resto, é um modo de vencer as mesquinharias, as vicissitudes  Eu poderia ficar ali por horas. Estou num mundo de equilíbrio, você respira melhor. Isso me traz muita paz e tenho uma necessidade vital disso. Para minha mãe, era a decoração: ela refazia o tempo todo o seu ‘interior’.”. (Catherine – In. PETIT, Michèle – A arte de ler ou como resistir às adversidades – São Paulo: Ed. 34, 2013).


Ao enxergar todas estas possibilidades, inevitável não pensar nas pessoas que – por inúmeros motivos – foram privados da leitura, da interpretação e da escrita.  Tenho a impressão de que vivem menos intensamente; não por conta do conhecimento intelectual, mas por conta do quanto de ENCANTAMENTO há no fato de ler e de compreender o lido. Isso lhes priva, ainda, de autonomia e cerceia as possibilidades de ascensão social. Conheci algumas pessoas que viveram e morreram sem saber ler e escrever. Pessoas ótimas, de caráter inquestionável, generosas; porém, dependentes de amigos e de familiares para solucionar questões que dependem da leitura e da escrita, o que nem sempre faziam de bom grado. Considero isso TRISTE. Há os que dirão: “são coisas da vida”; “Questão de escolha” etc. Eu não penso assim. Ouso dizer que é uma questão de OPORTUNIDADE!



Lamentavelmente, temos situações muito parecidas acontecendo ao nosso redor. Crianças com seus nove ou dez anos de idade (frequentando a escola!) semi  analfabetas. Diz-me: COMO PODE UM INDIVÍDUO FREQUENTAR AS SALAS DE AULA POR CINCO ANOS E CONTINUAR ANALFABETO OU ALFABETO FUNCIONAL? Não me conformo com coisas assim. Além do mais, creio na questão das oportunidades e nas circunstâncias, mas, creio ainda mais na ”vantagem” que há por detrás daqueles que nasceram e tiveram a oportunidade (não creio em sorte!) de encontrar pessoas que  se (PRE) OCUPARAM com elas, que lhes ofereceram livros e... AFETIVIDADE. Digo isso com certa propriedade, porque encontrei pessoas assim... E isso fez toda diferença na minha vida.

Saliento que acredito na relação entre AFETIVIDADE e APRENDIZADO. Não aprendo quando gritam comigo. Aprendo quando me explicam, educadamente, algo. Não aprendo quando me agridem fisicamente, mas quando me abraçam... Por isso, creio que as palavras abaixo resume a importância desta relação:



“Quando escrevemos, sentimos o mundo se mover, ágil, transbordando de possibilidades, nem um pouco congelado. Enquanto escrevo, mesmo agora, o mundo não se fecha sobre mim, não se torna mais estreito: ele faz gestos de abertura e de FUTURO. Eu escrevo. Imagino. O simples fato de imaginar me dá novamente vida. Não estou nem congelado, nem paralisado diante do PREDADOR. Eu escrevo e percebo que o emprego correto e preciso das palavras é como remédio para uma doença. Um meio de purificar o ar que respiro dos miasmas e das manipulações dos criminosos da linguagem. (...). De repente, não estou mais condenado a essa dicotomia absoluta, falaciosa e sufocante, a essa escolha desumana de ser VÍTIMA ou AGRESSOR sem que haja uma terceira via MAIS HUMANA. Quando escrevo, posso ser humano. (...). Eu escrevo também o que não podemos fazer REVIVER. Escrevo também o INCONSOLÁVEL. (...). Ponho o dedo n aferida e no luto como se toca com as mãos nuas a corrente elétrica e, entretanto, NÃO MORRO. (...)”. (David Grossman – Conferência no Pen Club, 29 de abril de 2007. Grossman escreveu essa conferência após seu filho ter sido morto durante a última guerra no Líbano).

Enfim, se me perguntarem hoje o que quero fazer para contribuir com a qualidade do ensino, responderei: “QUERO PROMOVER ENCONTROS AFETIVOS.” Pois os conteúdos estão todos ao alcance de um click. E eu?  Eu também uso o Google em momentos de dúvida; mas sou MUITO MAIS que uma máquina programada para dar respostas. Prefiro instigar: argumentações, questionamentos, curiosidades, sonhos e desejos. E isso o Google nunca fará. Morra de inveja seu buscador de uma figa! Mesmo porque você (o Google) JAMAIS terá um ENCONTRO AFETIVO com outro buscador. Enquanto eu e meus colegas educadores (ou não... Sei  lá, às vezes, penso que todo mundo é educador) temos a oportunidade de fazer isso todos os dias.

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