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EDUCAR É, ANTES, SENTIR... E TODOS SÃO CAPAZES DISSO.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

PROFESSOR FORA DA ZONA DE CONFORTO: uma provocação necessária

por Mari Monteiro
Primeiramente, preciso definir a expressão “zona de conforto” constante do título deste artigo. Trata-se de onde nos encontramos neste exato momento (a maioria de nós). Livros na mão, giz e lousa. Há quem chame isso de falta de estrutura e culpe o sistema, a escola,os gestores... Enfim. Eu chamo isso de zona de conforto.  Enumero os motivos:

- posso justificar a péssima qualidade do meu trabalho;
- não preciso ir além das páginas do livro;
- acomodo e me sinto confortável com o que já sei;
- o conteúdo é considerado, literalmente, DADO, o que não significa: discutido, desenvolvido, trabalhado...
- através dos registros nos livros e das tarefas feitas, posso comprovar que as aulas foram dadas: coloco data e considero aula dada;

Poderia continuar encontrando outros motivos. Mas estes bastam para que possamos REVER NOSSO PAPEL. Tudo, absolutamente tudo, amanhece DIFERENTE à nossa volta, menos a escola e o que fazemos nela.

Conteúdo. O QUE É O CONTEÚDO? “Assunto, teor, soma de conceitos e ideias de texto, obra, filme etc. o conteúdo de um artigo”. Read more: http://aulete.uol.com.br/conte%C3%BAdo#ixzz2cQuu7FU8

 Costumo dizer que conteúdo é tudo que está no GOOGLE e que está nos LIVROS DIDÁTICOS! E quem vai me contradizer? Faça as perguntas e o Google responderá. Isso é confortável. Todos os estudante e professores fazem isso. O que não é nenhum pecado. O mundo usa a internet para descobrir o que não sabe. Mas NÃO É MUITO INTELIGENTE; sobretudo, se o leitor/usuário do buscador não souber FILTRAR e INTERPRETAR os conteúdos oferecidos pelo Google.
Pronto. Chegamos onde queria. PRECISAMOS
DEIXAR ESTA ZONA DE CONFORTO. Por quê? Porque há uma imensa diferença entre LER os conteúdos dos links e FILTRÁ-LOS e; sobretudo, INTERPRETÁ-LOS.  Caso continuemos ignorando as ferramentas usadas pelos alunos para realizarem suas pesquisas e lições, no máximo, estaremos contribuindo para a formação de ANALFABETOS FUNCIONAIS. É bom que tenhamos completa clareza deste termo:
“Termo que se refere ao tipo de instrução em que a pessoa sabe ler e escrever, mas é incapaz de interpretar o que lê e de usar a leitura e a escrita em atividades cotidianas. Ou seja, o analfabeto funcional não consegue extrair sentido das palavras nem colocar ideias no papel por meio do sistema de escrita, como acontece com quem realmente foi alfabetizado. No Brasil, o analfabetismo funcional é atribuído às pessoas com mais de 20 anos que não completaram quatro anos de estudo formal. Mas a noção de analfabetismo funcional varia de acordo com o país. Na Polônia e no Canadá, por exemplo, é considerado analfabeto funcional todo adulto com menos de oito anos de escolaridade.

O conceito de analfabetismo funcional foi criado na década de 30, nos Estados Unidos, e posteriormente passou a ser utilizado pela UNESCO para se referir às pessoas que, apesar de saberem ler e escrever formalmente, por exemplo, não conseguem compor e redigir corretamente uma pequena carta solicitando um emprego. Segundo a Declaração Mundial sobre Educação para Todos, mais de 960 milhões de adultos são analfabetos, sendo que mais de um terço dos adultos do mundo não têm acesso ao conhecimento impresso, às novas habilidades e tecnologias, que poderiam melhorar a qualidade de vida e ajudá-los a perceber e a adaptar-se às mudanças sociais e culturais. Na declaração, o analfabetismo funcional é considerado um problema significativo em todos os países industrializados ou em desenvolvimento. Mais de um terço da população adulta brasileira é considerado analfabeta funcional.” (http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=132 – acesso em 19/08/2013)

Trocando em miúdos: O analfabeto funcional lê e escreve, mas isso não lhe traz qualquer TRANSFORMAÇÃO e nem acréscimo intelectual ou social uma vez que não entende o que lê ou escreve. Diante disso, o Google pode lhe oferecer milhares de links e suas dificuldades continuarão as mesmas. Neste caso nem Google e nem professor fazem o papel de “FACILITADORES DA CONSTRUÇÃO DE SENTIDO DA LÍNGUA ESCRITA”. Denominação comprida não é? Porém, não encontrei definição melhor para o “NOVO” PAPEL QUE O PROFESSOR DEVE ASSUMIR.
Doravante, cada um de nós deve redirecionar sua prática pedagógica. Não podemos nos ater somente aos conteúdos de ensino. Eles estão ao alcance dos alunos em todo lugar. Redirecionar, neste caso, implica em mais oralidade e questionamento acerca de tudo que é lido e “descoberto”. O aluno precisa aprender a CURIOSIDADE e a DESCONFIANÇA SAUDÁVEL sobre as informações que lhes são enfiadas goela abaixo. O aluno deve saber que tudo que foi dito ontem como verdade absoluta, pode não ser tão absoluta assim. Este comportamento deve ser instigado em sala de aula pelo professor.

O novo papel do professor implica ainda em fazer inferências e ensinar seus alunos a fazê-las também. Por exemplo, lido um texto ou uma informação, não cabe querer saber o óbvio sobre o conteúdo, pois o óbvio está explícito nos conteúdos (mídias, textos etc.). É preciso aprender a ler as entrelinhas, perceber a INTENCIONALIDADE dos autores, dos jornalistas, da mídia em geral. Caso contrário, aí sim seremos apenas “DADORES DE AULAS”.
Acredito na profissão de educador, aliás, foi bem por isso que a escolhi, porque a vejo como uma possibilidade de transformação social. Não falo aqui de milagres ou de transformações em massa. Falo de uma transformação paulatina, da diferença que um professor PROVOCADOR e ABUSADO pode fazer na vida do educando. De que adianta conhecimento sem prática? Teoria sem entendimento? Tirar dez na prova se esquece de tudo amanhã? Costumo dizer que o que FICA da vida escolar não são os conceitos aprendidos (a maioria deles é efêmera e esquecida...). O que fica são as PROVOCAÇÕES; os OLHARES SURPRESOS com algum a revelação feita pelo professor e que não estava no texto; o NÓ NA GARGANTA  diante de uma fala emotiva; a AUTENTICIDADE do professor percebida pelos alunos; os VALORES e os PRINCÍPIOS que condizem com a prática...
Enfim, não sei quanto a vocês leitores, mas eu preciso (e tento isso a cada dia) redirecionar minha prática. Penso muito no que não está ao alcance dos alunos e descubro que eles ( a maioria) não tem “acesso” a diálogos, argumentações, direito de questionar,  textos  e obras literárias de boa qualidade, o mesmo vale para a música e para a arte. ENTÃO, O QUE FAZER? Não sei. Não há receita. O que há é uma VONTADE QUE NÃO CABE EM MIM de não me conformar com o que está posto como educação, porque se isso funcionasse, não ocuparíamos uma COLOCAÇÃO TÃO VERGONHOSA no ranking mundial de educação. Assim, continuarei provocando, orientando a filtrar conteúdos e informações, interpretar, argumentar, formar o próprio ponto de vista e defendê-los com bons argumentos e não com gritos ou violência. Pois mesmo o CORRETOR DO WORLD não é capaz de exercer esse papel. Ele “diz”, em suas alternativas, onde está o erro ortográfico, dá algumas sugestões, mas é incapaz de perceber que, no texto digitado, não há coesão ou coerência. Ou seja, no world ainda não há a opção: MELHORE SEUS ARGUMENTOS. Logo, isso continua sendo uma tarefa nossa. Intransferível e muito mais relevante que a “decoreba” de conteúdos. Mesmo porque conteúdo  e informação é o que não falta. Faltam SELEÇÃO, CRITICIDADE e ATITUDE.


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