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EDUCAR É, ANTES, SENTIR... E TODOS SÃO CAPAZES DISSO.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

NEM TODO AQUELE QUE LÊ INTERPRETA


por Mari Monteiro
Na madrugada de ontem, enquanto assistia ao programa “Ponto a Ponto”, cuja temática era a prática leitura no Brasil, transmitido pela Band News, deparei-me com a seguinte fala do entrevistado (cujo nome não me recordo): “O BRASIL TEM O MAIS BAIXO ÍNDICE DE COMPREENSÃO DE TEXTO DO MUNDO.” Não que isso seja novidade, mas dito desta forma, mereceu reparo.

Esse dado explica (mas não justifica...) muita coisa. Se o brasileiro não compreende o que lê, obviamente não se interessará pela aquisição de um livro e tão pouco pela tentativa de leitura do mesmo. Imagine você que cena constrangedora (e eu, lamentavelmente, já presenciei várias em sala de aula da Escola Pública) um aluno, com um livro aberto fingindo ler. Além de constrangedora ( o que é muito grave), isso é enfadonho para o aluno que finge e que muda de página quando um colega do lado o faz.  Imagino que ele deva se sentir extremamente mal e inferior em relação aos demais.  Mas, quem se importa? Ele será aprovado no final do ano! ( Desculpem-me pela acidez com que exponho meus pensamentos na maiorias dos casos, mas quem já vivenciou tais situações se torna incapaz de formular frases de efeito com floreios e efeitos minimizadores de impacto.). A comprovação de que minha  típica acidez, ao discutir, Educação Pública Brasileira, é justa  é o fato de que o Brasil ocupa o último lugar em interpretação textual. Se minha acidez fosse exagerada ou inverossímil, certamente, não ocuparíamos esta posição vergonhosa.

Este dado constitui mais um aspecto que se soma ao meu inconformismo pedagógico.  Sempre que pude, disse aos pais das crianças: “Se seu filho não souber ler aos oito anos de idade, procure saber o porquê, procure toda forma de ajuda possível, porque isso NÃO É NORMAL. O NORMAL É APRENDER.” Confesso que sempre me senti muito bem ao dizer isso... Era como se, mesmo fazendo o mínimo, eu pudesse alertar aos pais para que não deixassem seus filhos à margem do aprendizado.

Enfim, não podemos nos conformar com “leitores mais ou menos”, os quais são classificados (classificados!) de acordo com suas “habilidades” em pré-silábico; silábico sem valor; silábico com valor; alfabético 1; alfabético 2; alfabético 3... (O que é isso?). E isso acontece até o 4º e 5º anos da Escola Pública e não apenas até os oito anos de idade! Ou o aluno lê ou não lê. A fluência sim será continuamente trabalhada ao longo das séries/anos. Agora, dizer para mim (e para o aluno) que escreveu  “A   A  I  “, que ele conseguiu escrever “ABACAXI” é, no mínimo, subestimar muita coisa: a capacidade intelectual da família (que merece uma explicação sobre o porquê seu filho acha que está escrevendo “abacaxi” com três vogais!!!); o trabalho do professor; e o pior, na minha opinião, o fato de o aluno, diante do entusiasmo do professor (sim, porque já vi professores felizes da vida com estes resultados medíocres!),  acredita que é capaz de escrever “abacaxi” e que esta é a forma correta. Daí advém o conformismo e o contentar-se com pouco, que perdura, por vezes, por boa parte da sua vida. Mas, reencontraremos este aluno tempos depois, muito provavelmente na EJA (Educação de Jovens e Adultos) ou nas ruas, trabalhando informalmente por terem abandonado os estudos... E  salve ( ou seria melhor “salvem” – do verbo SALVAR) os silábicos com valor, sem valor e etc.

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