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EDUCAR É, ANTES, SENTIR... E TODOS SÃO CAPAZES DISSO.

domingo, 29 de setembro de 2013

MIKE: O REENCONTRO!

POR MARI MONTEIRO


Tarde de primavera, setembro de 2013.


Aguardo ansiosa uma visita importante: Mike. Mal posso acreditar que irei revê-lo. Será que ele se lembra de que marcou comigo? O que achará do artigo que lerá no blog? Preciso que ele o aprove. Afinal, além de ser sobre ele, também preciso de sua  permissão para escrever e registrar nosso REENCONTRO... Sete anos depois...

Pontualmente, às duas horas da tarde, alguém sobe até minha sala e anuncia que Mike chegara. Meu coração disparou. Pedi que ele subisse. Havia acabado de falar com seu pai ao telefone (foi um retorno no tempo e no espaço, ouvir aquela voz generosa e educada, de quem cujo nome é Sr. Rosângelo e não Sr. Antônio, como me “recordava” no primeiro artigo.), ele me disse que Mike havia ido ao banco e que, depois, passaria na escola para conversar com uma professora. Apresentei-me e – feliz – pensei: “ELE NÃO ESQUECEU!”.

Não demorou e Mike surgiu no corredor. Eu o aguardei na porta. O abraço foi emocionante. INCRÍVEL COMO OS OLHARES NÃO MUDAM (impossível fingir um brilho no olhar). E o sorriso? O mesmo do menino de doze anos que conheci. Logo pedi para que uma pessoa registrasse nosso reencontro. Tiramos algumas fotos.

O artigo “POR ONDE ANDARÁ O MIKE?”, escrito em 21 de fevereiro deste ano, já estava esperando por ele no computador. Sentamo-nos e eu lhe contei sobre os motivos que me levaram a escrever sobre ele. Em seguida, deixei-o à vontade para ler o artigo. Confesso que fiquei tensa, não sabia quais seriam suas impressões. Concentrado, ele lia atentamente cada parágrafo. Às vezes, olhava pra mim e ríamos. Quando terminou, estávamos com os olhos úmidos.

- Legal hein Professora?
- Gostou?
- “Da hora!”

(...) Silêncio.

Mostrei a ele o funcionamento do blog e os depoimentos dos meus alunos do Ensino Médio e de outras pessoas sobre sua história. Ele ficou surpreso. Ele soube que muitas pessoas leram e passaram a conhecer aquela pequena parte de sua vida  e que, agora, veriam o seu ROSTO, seu OLHAR e seu SORRISO.

Conversamos sobre todos os outros colegas da nossa turma de 2006. Rimos de muitas lembranças. “POUCOS CONTINUARAM OS ESTUDOS. A MAIORIA PAROU DE ESTUDAR PRÔ!” Isso me entristeceu. Mas, logo o Mike sorriu e voltei para aquele momento. Ele  está no Terceiro ano do Ensino Médio. “ATÉ A SEXTA SÉRIE EU FUI RUIM, MAS DEPOIS EU MELHOREI E AGORA ESTOU MAIS OU MENOS.” Disse ele e, claro, sorriu aquele sorriso de luz. Contou-me que prestará o ENEM. Falamos sobre a possibilidade de ele ser aprovado e cursar uma universidade. FICAMOS FELIZES AO PENSAR NISSO.

Muitas coisas passavam pela minha cabeça enquanto conversávamos. Mas, o que eu mais dizia a mim mesma era: “ELE É UM VENCEDOR, UM SOBREVIVENTE DO SISTEMA!” Mas, não podia ignorar o fato de que muitos haviam ficado pelo caminho. E... Vai entender!  Eu havia cismado justamente com o Mike; talvez eu merecesse mesmo essa alegria, esse retorno. Porque, caso escolhesse qualquer outro aluno para contar a história, talvez eu não estivesse aqui agora, feliz da vida, escrevendo este artigo. Talvez me tivesse sido negada esta satisfação.

Conversamos sobre muitas outras coisas que não caberiam aqui. Providenciamos contato pelo Facebook e ele prometeu voltar sempre. Em seguida, fomos até a Direção para vermos a Helena, que teve muita importância nesta história, tanto hoje como há sete anos. Foi mais um momento único. Ela o RECONHECEU imediatamente. E isso o deixou bem feliz.

Na despedida, promessas de não nos perdermos um do outro. Quero notícias sobre o ENEM; sobre os rumos que a vida dele tomará... Um abraço fraterno selou nosso reencontro...

Já se passaram alguns dias desde que o vi na rua, quando ele gritou, passando por mim apressado: “E AÊ PROFESSORA MARI?”. Olhei, retribui o cumprimento e continuei andando. Alguns passos adiante, me dei conta: “É O MIKE!” Mas, já não podia mais alcançá-lo. Ele havia se embrenhado na multidão. Iniciei uma busca no mesmo dia. Bendito dia! Bendito reencontro em que me chamara pelo nome sete anos depois! BENDITO MUNDO QUE GIRA e nos faz rever; reviver; reencontrar; repensar; recomeçar e REANIMAR, no sentido mais amplo da palavra.

No primeiro artigo, terminei com a seguinte frase: “(...) Espero que esteja bem... E que um dia possa, por um destes acasos providenciados por Deus, ler este artigo e dar notícias...”. FUI ATENDIDA! Então, só posso terminar este artigo agradecendo a Deus, ao Mike e à sua família, aos meus alunos do Ensino Médio do CEC (2013), QUE AGORA FAZEM PARTE DESTA HISTÓRIA; à Diretora Helena; à Cidinha  e José que o localizou e à Conça. 

Finalmente, a TODOS OS LEITORES, desejo momentos como este: momentos de felicidade que, embora breves, se fazem eternos na lembrança... Bem guardados num RELICÁRIO de onde os retiro, como arquivos,  para usar como bálsamo na superação de outros momentos não tão felizes assim...

"Esta parte da minha vida, esta pequena parte, se chama Felicidade."  (do filme: À procura da Felicidade)

Para ler o primeiro artigo: "MIKE: POR ONDE ANDARÁ O MIKE?", CLIQUE NO LINK ABAIXO:
http://educandoquem.blogspot.com.br/2013/02/mike.html



sexta-feira, 27 de setembro de 2013

DOCENTE DECENTE: QUANTOS SOMOS MESMO?

Por Mari Monteiro



Começaram as inscrições para um dos maiores concursos públicos do Estado de São Paulo. Obviamente, será fácil. Aposto como o Governo vai "facilitar". Mesmo porque se ele está ciente da falta de professores na Rede e na DECADÊNCIA da qualidade do ensino, ele não pode exigir muito.

Fato é que SOMOS UMA ESPÉCIE EM EXTINÇÃO! Venho afirmando isso algum tempo. Trabalhando com alunos do Ensino Médio, percebemos as escolhas profissionais. Há tempos, ninguém opta pela carreira de professor. Das duas uma. E ISSO VAI DOER! Ou nós não lhes inspiramos mais (porque a nossa profissão perdeu o glamour e nós o perdemos também!) ou eles estão conscientes do quanto nos desgastamos em troco do que "não haveria preço". 

Que profissional, além do professor leva tanto serviço para casa? O médico, por exemplo leva seus pacientes para operar em casa? Trinta a quarenta alunos por sala; se quiser se manter financeiramente (com o mínimo para sobreviver com decência) terá que dobrar período ou trabalhar em até três ou quatro escolas (de diferentes instâncias)...

Consigo pensar numa série de pseudônimos para os professores:Professor - Zumbi (não ouve e nem fala); Professor -solitário (passa finais de semana a fio corrigindo ou preparando atividades); Professor - Hóspede (vai em casa só para dormir); Professor - deixa quieto ( indiferente, empurra com a barriga); Professor Moralmente Doente, = angústia; peso nas costas; dores nos braços e nas mãos; dores de cabeça diárias; insônia; sensação de impotência; medo; fortes presságios sombrios sobre o futuro da educação e, antagonicamente, persistência; otimismo e desejo de mudança.

Vai encarar o concurso? Se vai, te desejo uma excelente prova. Se não vai... Bem, você deve possuir OPÇÕES MELHORES. Quanto a mim, já sofro de todos os "MALES" acima. Então, que venha o futuro. Da educação? Não. Da EXTINÇÃO DA PROFISSÃO DOCENTE DECENTE! Em breve, seremos poucos. Muito poucos e aí sim, vão ter que nos VALORIZAR!

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

LER E INTERPRETAR: A QUEM INTERESSA?

POR MARI MONTEIRO






O que você está prestes a ler são palavras IMPACTANTES; sobretudo às Alma sensíveis dos educadores que AINDA ACREDITAM nas possibilidades de aprender a LER e a ESCREVER com propriedade; com o discernimento necessário para não ser manipulado ou ludibriado pelos meios de comunicação ou por qualquer outra forma que exija uma interpretação mais aguçada dos fatos. E não estou falando da “enganação” do clichê: “aprendemos a ler e a escrever durante toda a vida”. ISSO É BALELA! Uma desculpa esfarrapada dos profissionais (há muitas exceções) para justificar a grande soma de alunos que, ao final do QUINTO ANO não leem com fluência e, muito menos, interpretam!


Este artigo é sobre este FINGIMENTO GENERALIZADO que permeia o sistema de ensino brasileiro. Somos uma VERGONHA MUNDIAL no quesito interpretação de texto. Diante disso, as citações e argumentações aqui contidas são dirigidas a nós, professores, porque antes de tudo, NÓS PRECISAMOS GOSTAR DE LER, DE ESCREVER E DE INTERPRETAR... E conheço reinos “não tão distantes” em que os profissionais da educação não leem, não interpretam e tem raiva de quem o faz!


Ser escritor é falar das coisas que sabemos sem saber que o sabemos. Explorar esse saber e compartilhá-lo é um PRAZER: o leitor visita um mundo que é ao mesmo tempo familiar e miraculoso. Quando um escritor toma suas feridas secretas como ponto de partida, outorga grande confiança à humanidade, conscientemente ou não. Minha confiança vem da crença de que todos os seres humanos são SEMELHANTES, que outros carregam feridas parecidas com as minhas e que, portanto, poderão compreender.” (ORHAN, Parmuk)


Quando leio ou escrevo, me distancio do que sou agora. Posso ser ou estar onde eu quiser. Neste suposto refúgio, eu me exponho. Exponho o que, antes, era só meu. Compartilho. Ao compartilhar, mudo de ideia, tropeço em minhas certezas, enxergo outras perspectivas... Vou seguindo, revendo conceitos, revirando gavetas, redecorando meu ser em PERMANENTE CONSTRUÇÃO. Neste sentido, compartilho da ideia de Catherine (texto abaixo):


 “Quando estou muito deprimida, vou ver uma exposição, procurando outra coisa, em outro lugar. Quando o exterior é belo, me imagino bela no interior, é uma espécie de reflexo. Uma coisa bela apaga todo o resto, é um modo de vencer as mesquinharias, as vicissitudes  Eu poderia ficar ali por horas. Estou num mundo de equilíbrio, você respira melhor. Isso me traz muita paz e tenho uma necessidade vital disso. Para minha mãe, era a decoração: ela refazia o tempo todo o seu ‘interior’.”. (Catherine – In. PETIT, Michèle – A arte de ler ou como resistir às adversidades – São Paulo: Ed. 34, 2013).


Ao enxergar todas estas possibilidades, inevitável não pensar nas pessoas que – por inúmeros motivos – foram privados da leitura, da interpretação e da escrita.  Tenho a impressão de que vivem menos intensamente; não por conta do conhecimento intelectual, mas por conta do quanto de ENCANTAMENTO há no fato de ler e de compreender o lido. Isso lhes priva, ainda, de autonomia e cerceia as possibilidades de ascensão social. Conheci algumas pessoas que viveram e morreram sem saber ler e escrever. Pessoas ótimas, de caráter inquestionável, generosas; porém, dependentes de amigos e de familiares para solucionar questões que dependem da leitura e da escrita, o que nem sempre faziam de bom grado. Considero isso TRISTE. Há os que dirão: “são coisas da vida”; “Questão de escolha” etc. Eu não penso assim. Ouso dizer que é uma questão de OPORTUNIDADE!



Lamentavelmente, temos situações muito parecidas acontecendo ao nosso redor. Crianças com seus nove ou dez anos de idade (frequentando a escola!) semi  analfabetas. Diz-me: COMO PODE UM INDIVÍDUO FREQUENTAR AS SALAS DE AULA POR CINCO ANOS E CONTINUAR ANALFABETO OU ALFABETO FUNCIONAL? Não me conformo com coisas assim. Além do mais, creio na questão das oportunidades e nas circunstâncias, mas, creio ainda mais na ”vantagem” que há por detrás daqueles que nasceram e tiveram a oportunidade (não creio em sorte!) de encontrar pessoas que  se (PRE) OCUPARAM com elas, que lhes ofereceram livros e... AFETIVIDADE. Digo isso com certa propriedade, porque encontrei pessoas assim... E isso fez toda diferença na minha vida.

Saliento que acredito na relação entre AFETIVIDADE e APRENDIZADO. Não aprendo quando gritam comigo. Aprendo quando me explicam, educadamente, algo. Não aprendo quando me agridem fisicamente, mas quando me abraçam... Por isso, creio que as palavras abaixo resume a importância desta relação:



“Quando escrevemos, sentimos o mundo se mover, ágil, transbordando de possibilidades, nem um pouco congelado. Enquanto escrevo, mesmo agora, o mundo não se fecha sobre mim, não se torna mais estreito: ele faz gestos de abertura e de FUTURO. Eu escrevo. Imagino. O simples fato de imaginar me dá novamente vida. Não estou nem congelado, nem paralisado diante do PREDADOR. Eu escrevo e percebo que o emprego correto e preciso das palavras é como remédio para uma doença. Um meio de purificar o ar que respiro dos miasmas e das manipulações dos criminosos da linguagem. (...). De repente, não estou mais condenado a essa dicotomia absoluta, falaciosa e sufocante, a essa escolha desumana de ser VÍTIMA ou AGRESSOR sem que haja uma terceira via MAIS HUMANA. Quando escrevo, posso ser humano. (...). Eu escrevo também o que não podemos fazer REVIVER. Escrevo também o INCONSOLÁVEL. (...). Ponho o dedo n aferida e no luto como se toca com as mãos nuas a corrente elétrica e, entretanto, NÃO MORRO. (...)”. (David Grossman – Conferência no Pen Club, 29 de abril de 2007. Grossman escreveu essa conferência após seu filho ter sido morto durante a última guerra no Líbano).

Enfim, se me perguntarem hoje o que quero fazer para contribuir com a qualidade do ensino, responderei: “QUERO PROMOVER ENCONTROS AFETIVOS.” Pois os conteúdos estão todos ao alcance de um click. E eu?  Eu também uso o Google em momentos de dúvida; mas sou MUITO MAIS que uma máquina programada para dar respostas. Prefiro instigar: argumentações, questionamentos, curiosidades, sonhos e desejos. E isso o Google nunca fará. Morra de inveja seu buscador de uma figa! Mesmo porque você (o Google) JAMAIS terá um ENCONTRO AFETIVO com outro buscador. Enquanto eu e meus colegas educadores (ou não... Sei  lá, às vezes, penso que todo mundo é educador) temos a oportunidade de fazer isso todos os dias.

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