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EDUCAR É, ANTES, SENTIR... E TODOS SÃO CAPAZES DISSO.

terça-feira, 23 de julho de 2013

DEMÔNIOS INTERIORES (PARTE II)

POR MARI MONTEIRO


Não está fácil!



Alguns dias se passaram desde a publicação da parte I e, tendo eu cumprido o combinado, devo dizer que é uma das coisas MAIS DIFÍCEIS QUE JÁ FIZ. O ato de SE EDUCAR, de EDUCAR (ou reeducar) OS PENSAMENTOS chega a ser doloroso. Tento, tento todos os dias e a todo o momento fazer a troca do negativo pelo positivo. Raras vezes dá certo. A impressão que tenho é que temos uma tendência pessimista incutida em nossa mente. De que forma isso ocorre? Posso arriscar algumas possibilidades. Crescemos ouvindo que isso e aquilo outro não vai dar certo; engolindo as desgraças veiculadas pela mídia; deparamo-nos com pessoas negativas pelo menos uma vez ao dia... Isso soa um tanto desigual.

Penso numa outra possibilidade. Que há uma luta INTERNA e DESLEAL dentro da gente. Quando eu era criança, sempre ouvi dos adultos: “Olha lá viu, quem muito ri, depois chora.” E eu, imediatamente engolia o riso. Isso só poderia fazer mal mesmo. Então preciso DESAPRENDER muitas coisas. Especificamente, esta coisa do riso eu já desencanei. Assim que conheci este texto de José Saramago sobre Sorriso:


PARA VOCÊ, UM SORRISO SUTIL. POIS GOSTO MESMO É DE CHORAR DE ALEGRIA!!!


“Sorriso, diz-me aqui o dicionário, é o ato de sorrir. E sorrir é rir sem fazer ruído e executando contração muscular da boca e dos olhos.
O sorriso, meus amigos, é muito mais do que estas pobres definições, e eu pasmo ao imaginar o autor do dicionário no ato de escrever o seu verbete, assim a frio, como se nunca tivesse sorrido na vida. Por aqui se vê até que ponto o que as pessoas fazem pode diferir do que dizem. Caio em completo devaneio e ponho-me a sonhar um dicionário que desse precisamente, exatamente, o sentido das palavras e transformasse em fio-de-prumo a rede em que, na prática de todos os dias, elas nos envolvem.
Não há dois sorrisos iguais. Temos o sorriso de troça, o sorriso superior e o seu contrário humilde, o de ternura, o de cepticismo, o amargo e o irónico, o sorriso de esperança, o de condescendência, o deslumbrado, o de embaraço, e (por que não?) o de quem morre. E há muitos mais. Mas nenhum deles é o Sorriso.
O Sorriso (este, com maiúsculas) vem sempre de longe. É a manifestação de uma sabedoria profunda, não tem nada que ver com as contrações musculares e não cabe numa definição de dicionário. Principia por um leve mover de rosto, às vezes hesitante, por um frémito interior que nasce nas mais secretas camadas do ser. Movem-se músculos é porque não tem outra maneira de exprimir-se. Mas não terá? Não nos conhecemos sorrisos que são rápidos clarões, como esse brilho súbito e inexplicável que soltam os peixes nas águas fundas? Quando a luz do sol passa sobre os campos ao sabor do vento e da nuvem, que foi que na terra se moveu? E, contudo era um sorriso.”.




Quero dizer com isso que crescemos cercados de crendices, que nem sempre fazem jus à verdade. E, muitas delas, só fazem aumentar nossos medos. Como o MEDO DE SORRIR, por exemplo. Sempre parava de rir na metade, pra não chorar no dia seguinte. Sabe-se lá durante quanto tempo, fiz isso.

Enfim, não desisti. Apenas confesso minha dificuldade e assumo minha necessidade de DESAPRENDER muita coisa está arraigada no meu interior, dificultando minhas superações. Continuarei a dizer das minhas dificuldades... Não mais com o título de “Demônios interiores”; pois eles estão, DEVAGAR,SILENCIOSA E DOLOROSAMENTE se afastando, claro... Deixando cicatrizes, algumas bem profundas. Mas não me importo com elas... QUERO REAPRENDER; quaro rir sem medo; chorar sempre que for preciso exorcizar a dor (por enquanto, este é o único jeito que conheço) e dizer o que sinto, com sutileza, mas dizer, sem engasgar ou guardar dentro do peito pra ficar dando náusea como s e eu  tivesse engolido um grande novelo de lã.  Aprendi mais uma coisa. Uma coisa que não quero fazer: ficar esperando uma receita do além para não sentir dor. Mesmo porque, como dizia Renato Russo: “(...) TODA DOR VEM DO DESEJO DE NÃO SENTIRMOS DOR. (...)”.
DERROTANDO, POUCO A POUCO, COM AS PARCAS "ARMAS" DE QUE DISPONHO, MAS COM MUITA FÉ, OS MEUS DEMÔNIOS INTERIORES.









sexta-feira, 19 de julho de 2013

DEMÔNIOS INTERIORES (PARTE I)

POR MARI MONTEIRO



Antes de começar este texto, alguns posicionamentos devem ficar claros. Sou batizada na igreja católica; estudiosa de todas as doutrinas voltadas para elevação e para a evolução espiritual e; sobretudo, respeito muito todos os fiéis a Deus. Não acredito nas palavras dos homens. Aprendi a desacreditar quando cresci descobrindo padres pedófilos, pastores enriquecendo às custas de fiéis bem intencionados, placas de igrejas (com os mais variados nomes, alguns estranhíssimos) brotando feito praga pelos bairros. Pra que tanta?  Não somos, teoricamente, todos crentes num único Deus? Então, por que uma determinada “grife” de igreja salva e outras não? Honestamente, questiono tudo isso, apenas por querer entender a lógica deste processo.

Para mim toda forma de fé é VÁLIDA.  Demorei um ano inteirinho para ler a bíblia. Porque li como se estivesse lendo um livro didático, queria entender, interpretar. Ficaram DUAS COISAS: não conseguimos atender o único pedido de Jesus: “amai ao próximo como a ti mesmo” (quem é o próximo, o mendigo todo mijado? o namorado? só a família? aquele que perder tudo na enchente?), ou seja, fazemos acepções de pessoas, que é outra coisa que a bíblia não aprova. A segunda coisa que ficou foi o “julgamento” das INTENÇÕES. E esse é para mim o mais importante dos aspectos. Como somos mal intencionados, interesseiros, hipócritas e medíocres. Atire a primeira pedra quem não for nada disso.

Quando, hoje pela manhã estava lendo um dos versículos do salmo 143, em minha opinião, o salmo mais “forte” e tocante de todos, me ocorreu que estava pedindo proteção contra meus inimigos e os demônios. Pensei: não tenho inimigos. Não vejo demônios. Logo conclui, preciso sim de proteção, mas contra meus demônios interiores que, supostamente, são meus INIMIGOS. Não tardou para pensar nos meus medos (que são muitos...); inseguranças; anseios; egoísmo; vaidade... Estes são os meus demônios interiores.

E haja coragem para me olhar no espelho depois desta percepção. Não foi nada fácil admitir que todos estes sentimentos ocupam espaço dentro de mim. Que muitos deles me cegam, enfraquecem minha fé. E agora? Como livrar-me deles? Anos de terapia? Não ganho tão bem pra isso. Conclui que estou sozinha nesta empreitada. Pois nem meu melhor amigo, nem a pessoa que mais me ama nesta vida serão capazes de PENETRAR MEU INTERIOR e removê-los de lá. Passei o dia inteiro me martirizando com estes pensamentos. Cujas providências os meus amigos leitores vão acompanhar através dos próximos relatos sobre esta experiência.


Agora, anoitecendo, penso que a primeira coisa a fazer é tentar substituí-los por outros sentimentos. Trocar inimigos por amigos e demônios por anjos. Decidi. Será assim: para cada pensamento ruim que me assolar terei de, imediatamente, pensar em duas coisas extremamente boas. Afinal, MINHA EXISTÊNCIA É LINDA! Tenho muitos bons amigos, amo muitas pessoas, recebo muito amor, recebo muitas bênçãos (PREFIRO CHAMAR DE PROVIDÊNCIA DIVINA)... Quando menos espero (e mais preciso) encontro pessoas e me deparo com palavras, olhares e gestos que mudam o rumo do meu dia. Hoje mesmo foi um dia em que, antes de dormir, preciso dobrar meus joelhos e AGRADECER MUITO A DEUS, mais que nas demais noites da minha vida.

Assim sendo, creio que se continuar amando com a mesma frequência e com a mesma INTENSIDADE de sempre, posso derrotar meus inimigos e meus demônios interiores. Óbvio que não será fácil. Isso é apenas meu primeiro passo. Sou imperfeita, falharei muitas vezes, antes de conseguir. Porém, falharei tentando e; sobretudo, amando (sou do tipo que a maioria chama de tola, aquela pessoa que ama por ela mesma e pelos outros...). Não me importo, fico com meu “AMOR IMPERFEITO”. Pois, como disse o poeta: “Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.” (Renato Russo).  Além disso, sempre acreditei em milagres; em sorte, NUNCA!

P.S. Caso alguém questione a relação deste artigo com “EDUCAÇÃO”, trata-se de uma associação com amais importante forma educação: A EDUCAÇÃO PARA A VIDA.




segunda-feira, 15 de julho de 2013

ENXERGAR O OLHAR

POR MARI MONTEIRO




Há um verso admirável de Chico Buarque que diz: “(...) Acho uma delícia quando você esquece os olhos em cima dos meus (...)”. Esta coisa de “esquecer” o olhar nos remete a uma espécie de calmaria. Um olhar demorado, talvez passional, de quem não tem PRESSA e nem MEDO de olhar nos olhos do outro.

Isso me faz pensar no quanto desaprendemos a olhar nos olhos das pessoas no cotidiano. Não que isso não aconteça mais. Mas é algo autômato, rápido... Um dos dois desvia rapidamente o olhar. Não me sinto à vontade com isso. Lembro-me que tínhamos mais coragem (ou talvez uma vida menos acelerada...) para tanto.

Não é fácil enxergar um olhar. Isso implica em muita sensibilidade e; sobretudo, num sentimento escasso hoje em dia: PACIÊNCIA. Falamo-nos às pressas, muitas vezes por gestos, sms, e – mail, Skype...  E tudo isso AFASTA OS OLHARES e tudo o que de mais profundo eles podem revelar.

Penso que se torna necessário REAPRENDER A ENXERGAR OS OLHARES das pessoas... Particularmente, considero este gesto, além de educado e gentil, extremamente carinhoso. É como se a outra pessoa, ao olhar nos meus olhos, me dissesse: “ESTOU AQUI, POSSO TE OUVIR MESMO QUE VOCÊ APENAS ME OLHE EM SILÊNCIO”.  Este tipo de atitude cria vínculos.

Em contrapartida, o ser humano tem uma capacidade muito eficaz de habituar-se a situações corriqueiras e, lamentavelmente, para a maioria, já se tornou um hábito desviar o olhar. Isso não pode ser bom. Causa distanciamento; transparece um descaso (que, por vezes, nem é intencional); DESUMANIZA AS RELAÇÕES. Isso é triste...

Gostaria que os leitores fizessem um teste com as pessoas próximas. Chame-as e comece uma conversa... Observem se elas param o que estão fazendo para olhar para seus olhos, para tentar fazer uma LEITURA do que você sente enquanto fala. Já fiz isso várias vezes e, a menos que você diga: “POR FAVOR, OLHE PRA MIM”, dificilmente o famoso “olho no olho” vai rolar... e , se rolar, tente mensurar o quanto dura...



Enfim, estou apenas dividindo uma angústia pessoal e profissional. GOSTO DE OLHAR NOS OLHOS DOS MEUS ALUNOS. INCLUSIVE, CONVERSAMOS SOBRE ISSO. Sei também que o que estou propondo não é nada fácil. Mas, ACREDITE, quando acontece, é MÁGICO.  Estabelece-se outro patamar de amizade, de confiança e de proximidade... É quase uma questão de SOBREVIVÊNCIA que estejamos conectados de outra forma que não seja apenas virtualmente. E que maneira melhor de DIZER E DE SENTIR  a verdade que  através do OLHAR. E, só para reforçar esta minha inusitada tese, há também um trecho bíblico que se refere à importância do olhar: "Os olhos são a candeia do corpo. Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz.
Mateus 6:22)". Que nossos corpos sejam, então, plenamente iluminados.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

FILME RECOMENDADO: A TENTAÇÃO

POR MARI MONTEIRO




  • FICHA TÉCNICA
  • : Lançamento
  •  (1h 41min
  • Dirigido por
  • Com
  • Charlie HunnamLiv TylerPatrick Wilson mais
  • Gênero
  • Drama , Suspense
  • Nacionalidade
  • EUA , Alemanha.


  • SINOPSEGavin Nichols (Charlie Hunnam) é um jovem que está na beira de um edifício, ameaçando pular. O detetive Hollis Lucetti (Terrence Howard) é enviado para impedi-lo e, ao conversar com ele, descobre que Gavin está sendo forçado a pular antes do meio dia. A conversa faz com que Gavin e Hollis exponham seus pontos de vista religiosos, em um verdadeiro embate sobre questões filosóficas.




    Assistir a esse filme, inevitavelmente, nos faz refletir sobre nossas crenças e ATITUDES diante delas, da SOCIEDADE e do DEUS em que cada um acredita. Sem ser tendencioso, o roteiro nos coloca diante de um ESPELHO e pergunta: "QUEM É VOCÊ?"; "ESTÁ FELIZ SENDO COMO É?"... A partir de então é impossível deixar de ver ao desfecho surpreendente. O que faz com que a reflexão sobre si mesmo se torne ainda mais intensa.


    Enfim, trata-se de um visita ao próprio EGO, munido das mais INQUIETANTES questões morais, intelectuais, sociais, religiosas. éticas etc. Vale  apena VOLTAR DESTA VISITA e iniciar uma espécie de "metamorfose", por mais sútil que ela seja. Pois é exatamente isso que acontece. Bom filme e bom passeio dentro de si mesmo.

  • quarta-feira, 10 de julho de 2013

    FÉRIAS DE PROFESSOR

    POR MARI MONTEIRO



    Não sei quanto à maioria, mas tenho uma dificuldade enorme de DESACELERAR. É muito provável que isso se deva ao fato de que, nas semanas que antecedem as férias, os afazeres são tão complexos e intensos e... TENSOS, que custo a me desligar de tudo. Os primeiros dias são os piores: MEU CORPO NÃO ENTENDE QUE ESTÁ DE FÉRIAS E PODE DESCANSAR. O cansaço é tanto que só consigo dormir... Mas não é um sono de descanso. É como se fosse (e deve ser) um sono de COMPENSAÇÃO.

    Isso é FRUSTRANTE e distante demais da minha CONCEPÇÃO DE FÉRIAS. Porque férias para mim é sinônimo de DESCANSO. Ah! Férias! Ler vários livros... Ver vários filmes. Não pensar em quaisquer questões burocráticas. Não adoecer. Adoeci na primeira semana. Tive uma crise nervosa. Menos uma semana de férias. Estamos na segunda semana e eu cheia de problemas para resolver. Isso NÃO PODE ESTAR CERTO.


    A maioria das pessoas questiona o porquê de os professores terem FÉRIAS/RECESSO DUAS VEZES por ano. Respondo. Trata-se de um trabalho de RISCO (podem discordar se quiser). Muitos de nós temos dois empregos (ou mais!). Papeladas mil para preencher e corrigir. Lidamos com os mais adversos CONFLITOS HUMANOS (só por isso já merecíamos insalubridade). Isso tudo junto entra em ebulição e assim permanece por quatro meses seguidos. Uma verdadeira panela de pressão que precisa ser desligada em tempo. E, na verdade, os especialistas em saúde e o Governo estão cansados de saber disso. Logo, é um direito indiscutível e NECESSÁRIO.



    Confesso que meu maior sonho de consumo relacionado à profissão docente é poder TRABALHAR APENAS UM PERÍODO e, obviamente, conseguir me manter financeiramente assim. Sonho distante  esse!



    Porém, sou otimista por natureza. E conto com as duas próximas semanas. Não quero muito. Nenhuma grande viagem... Só tranquilidade. Um tempo de “REFAZIMENTO” para voltar INTEIRA e DISPOSTA para meus alunos e colegas de trabalho. Afinal, para quem me conhece, minha máxima é: “APENAS PROFESSOR SATISFEITO É CAPAZ DE ENSINAR” ; tudo mais fora deste contexto é mecânico... Superficial... Fraudulento!

    E ainda assim, existem muitos professores que planejam, para o período de férias, coisas como: reformar a casa; pintar a cozinha, planejar e preparar atividades para o semestre seguinte; fazer cursos intensivos de aperfeiçoamento... Desculpem! Isso não entra na minha cabeça! Nas férias, minha maior ambição é: DESCANSAR CORPO E MENTE.




    Enfim, como não somos dotados de botões de “liga-desliga”; tenho trabalhado muito para poder aproveitar os próximos dias.  “Bora” tentar resolver todas as minhas pendências durante esta semana. Afinal, tenho uma lista de coisas boas para fazer que para muitos pode não ser nada demais, mas para mim é um LUXO: ler os livros que ganhei e ainda não li, namorar mais, assistir mais filmes, não colocar o celular para despertar, ir ao cinema de mãos dadas... Sei que, em todas as profissões, é possível conciliar tudo isso. Mas, acredite em mim. Se você é professor comprometido, pontual, preocupado com seus alunos de um modo geral... No dia a dia isso não é possível. E, para finalizar, acho mais. DEVERIAM SER QUARENTA DIAS DE FÉRIAS! DUAS VEZES POR ANO... Já que eu levo DEZ só pra me desligar... rsrs.  BOAS FÉRIAS A TODOS!!!








    terça-feira, 2 de julho de 2013

    VALORES: QUEM (AINDA) LIGA? A DONA LINDOCA LIGA.

    POR MARI MONTEIRO





    VALORES, segundo o dicionário on line Houaiss: “(...) 12 Derivação: por extensão de sentido. Conjunto de traços culturais, ideológicos ou institucionais, definidos de maneira sistemática ou em sua coerência interna. (...)”. Ex.: valores da família, da tradição, da vida militar.

    VALORES, segundo meu ponto de vista: conjunto de modos de pensar o mundo, de comportamento e de atitudes pautadas pela ética. “Fazer ao outro naquilo que gostaria que fizessem a mim.” (clichê que define bem o que penso sobre valores)

    VALORES: onde aprendê-los? Como leiga, mas muito curiosa que sou penso que trazemos conosco uma carga genética que complementará nossa formação de caráter e, inclusive, de valores.  Porém, minha convicção mais forte diz que a grande parte do que vivenciamos é o que determina o aprendizado e a construção dos valores. Renato Russo escreveu um verso que diz: “A MINHA ESCOLA NÃO TEM PERSONAGENS. A MINHA ESCOLA TEM GENTE DE VERDADE.”. Foi o que aconteceu comigo. Hoje, quando abro minhas “malas”, percebo que boa parte da bagagem que carrego comigo, foi aprendida através de exemplos, das observações dos comportamentos dos outros, das minhas próprias reações às intempéries da vida. E, neste percurso, além da minha relação com meus pais e minha irmã, há três núcleos que me ENSINARAM muito sobre VALORES: a família da DONA LINDOCA, Sr. ANTÔNIO MANUEL e o Sr. HECTOR.

    Isso é muito nítido para mim; sobretudo, porque, quando criança, tive a honra de conhecer a família do Senhor Vicente de Souza e da Senhora LINDOCA MARIA DE SOUZA. Um lindo casal de negros com seus sete filhos. Éramos vizinhos. Os fundos do meu quintal davam direto para o cortiço onde moravam. Todos nós éramos muito pobres, materialmente falando. Porém, desconheço uma casa e uma família tão limpos e unidos. Foi com eles que aprendi boa parte do que carrego comigo enquanto noção de FAMÍLIA, de COMPARTILHAR o que se tem, de RIR das pequenas coisas, de oferecer CARINHO incondicional e desinteressadamente. Essa relação permaneceu por anos a fio. Até que me casei, eles se mudaram e nos distanciamos.



    Impossível esquecer a hora do jantar. Todos comiam juntos, apesar de não caberem na mesa. E era um momento para colocar a conversa em dia... E todos falavam uns com os outros sobre seus dias. AH! O DIÁLOGO. ONDE ESTÁ VOCÊ?  Há uma fala do Senhor Vicente da qual jamais esquecerei e, toda vez que me lembro dela me pego com um sorriso terno e saudoso no rosto. Ele me olhava e dizia: “Sabe ‘zóio de folha’ (era assim que ele me chamava), tá vendo essa negona linda aqui, gorda, pele bonita? Ela num era assim não quando conheci. Ela era seca, magrela e cortava cana. Depois que me conheceu tudo mudou. A gente cuidou um do outro e olha como ela é linda agora!”. Em seguida, Dona Lindoca abria um sorriso lindo enquanto seus olhos brilhavam olhando para Sr. Vicente. Sabem o que significa isso pra mim? UMA LIÇÃO DE AMOR E DE DEVOÇÃO. São coisas assim que considero aprendizado de valores. Algo aprendido, jamais esquecido e que sempre vai permear minhas decisões.

    Já o Sr. Antonio Manuel é outro personagem inesquecível na minha vida. Só nos víamos nas férias escolares, mas eram trinta dias nos quais aprendia muita coisa. Ele possuía um afazenda, na qual minha tia era cozinheira.  Sou fascinada até hoje por aquele lugar. Tenho muitas fotos, além das lembranças. Quase todas as tardes, ele chamava a mim e aos meus primos para sentar no tapete de sua biblioteca enorme e luxuosa. Ora ele lia contos de livros, ora ele contava suas viagens pela Europa. E eu tinha ali a oportunidade de “VER” mundos, personagens, linguagens totalmente alheios ao meu cotidiano. Ele era muitíssimo culto, falava outras línguas e nos mostrava os mundos dos livros.  Falava baixo e pausadamente. Aquilo me encantava. Não esqueço até hoje o timbre de sua voz. ERAM LIÇÕES DE ZELO, DE COMPORTAMENTO, DE GOSTO PELA ARTE E PELOS LIVROS. Diga-se de passagem: aprendi a comer com garfo e faca de prata e observando como ele fazia. Abusada!



    O Sr. Hector e sua esposa Aurora eram argentinos e se tornaram nossos vizinhos por um tempo. Eles não tinham filhos, então aos finais de semana, ele gostava de reunir as crianças do cortiço para ensinar Inglês. Daí a minha familiaridade sonora com este idioma e com o espanhol; não acerca da fluência. Mas, tudo que ouço nestes dois idiomas me é muito familiar. Primeiro, porque eles falavam mais em espanhol que em português. Aqueles momentos significavam muito para mim e para as outras crianças, todos nós éramos alunos de escola pública e estávamos ainda no Ensino Fundamental I, então ficávamos abismados com as palavras que aprendíamos. Certa vez, ele promoveu uns passeios para as crianças e seus respectivos pais ao cinema. Um dos mais luxuosos de São Paulo. Não me lembro do nome do cinema e nem do desenho que assistimos. Só me lembro do quanto fiquei maravilhada com aqueles carpetes vermelhos, poltronas imensas e com a tela gigante. ESTAS FORAM LIÇÕES SOBRE A CULTURA E O GOSTO PELO APRENDIZADO.


    Enfim, é a este conjunto de vivências e de aprendizados incessantes, somados ao que trazemos hereditariamente que dou o nome de VALORES.  Valores com os quais me importo muito. Sinto-me GRATA, PRIVILEGIADA e ABENÇOADA por ter tido a oportunidade de conviver com estas pessoas. E, ainda hoje, COLECIONO LIÇÕES. Ainda estou cercada de muitas pessoas que me ensinam coisas novas e reforçam meus valores todos os dias.  Caso eu me pautasse apenas nestes personagens da minha vida e nesta pequena parte dela, já poderia afirmar que sou uma pessoa muito protegida pelos ANJOS... Pois, estou certa que pessoas assim, quando nos deixam, VIRAM ANJOS... E CONTINUAM POR PERTO A NOS GUIAR.


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